Mas também cantarolar uma canção que gosta enquanto espera
andarem os carros, distraidamente, naquele engarrafamento de todos os dias, e olhar
para o lado, sorrir para o acompanhante, ou o motorista do outro carro, compartilhando
com ele um momento tão nosso...
E fazer um gesto amistoso para o colega de trânsito, como a lhe
pedir desculpas pela “barbeiragem” cometida por conta da pressa, ou num excesso
de velocidade, por pura distração...
Também cumprimentar o usuário do transporte coletivo, que
espera ao nosso lado pelo mesmo serviço (estamos no mesmo barco!); e exercer as
lições básicas da boa vizinhança, e da educação doméstica, com o outro
passageiro, o cobrador, o motorista, o transeunte...
E ceder o assento para os idosos, as gestantes, as pessoas
com crianças, lembrando que um dia chegará a nossa vez de ser tratado com deferência.
Está na hora de adquirirmos um jeito mais doce de olhar o
mundo, uma maneira mais terna de encarar as
pessoas, reconhecendo em cada uma
delas alguém tão passível de cometer falhas, fazer escolhas equivocadas e tomar
atitudes erradas quanto nós.
Permitir-se pedir desculpas, portanto, se for esse o caso, será
sempre oportuno; e estender a mão, dar o primeiro passo para a reconciliação,
favorecer o reajuste...
Afinal, a dor que incomoda aqui dentro também inquieta lá
fora – expressa nas inadvertidas ações humanas –, mesmo que continuemos a usar
máscaras, uns para com os outros, nas relações sociais.
Mas também preparar aquela comidinha – simples, mas saborosa
– para quem a gente ama; e arrumar a mesa, o ambiente, a casa, a “cara”, para
quando o outro chegar. E abrir os braços para acolher o filho que chora, o
amigo que nos busca, o companheiro que nos espera, o estranho que pede
esmola...
Também sair de dentro de nós mesmos, da nossa comodidade,
para visitar um doente, levar alimento ao faminto, levantar o caído; deixar que
saiam da nossa boca apenas palavras de incentivo, e dar ao que sofre um motivo
novo para seguir vivendo.
Mas também calar quando for preciso; parecer ausente quando
o momento pedir; passar despercebido para que a obra apareça ou para que outros
ganhem destaque e sejam reconhecidos.
Afinal, as coisas boas da vida não são apenas as que nos
trazem algum benefício particular ou as que nos proporcionam, pura e
simplesmente, um egoístico bem estar. Mas as que nos dão trabalho, as que
exigem um pouco mais de nós: um pouco mais de esforço e compreensão; um pouco
mais de suor e dedicação...
Sendo assim, parece-me muito oportuno lembrar as
palavras imorredouras e sábias de Francisco, il poverello di Assisi, que aprendeu desde muito cedo, sem eleger para si um amor particular, que é
dando que se recebe.
Pois as boas coisas da vida só serão benéficas e positivas, de
verdade, se nos mantivermos de coração aberto para compartilhar.
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