sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Por uma cultura de paz!

Lendo um semanário local, cuja matéria de capa aborda as comemorações do 7 de Setembro, chama-me à atenção o parágrafo que diz ter sido o desfile da Força Nacional e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) o momento mais esperado pela população e que a apresentação desses homens, com armas e “técnicas de ação” em plena avenida, foi aplaudida de pé.

Impressiona-me mais ainda a foto de um menino dentro do carro do pai, que, usando balaclave e segurando um boneco de soldado camuflado na mão direita, expressava o seu espírito cívico e comemorava, assim, o Dia da Independência do Brasil.

Sem desmerecer o trabalho desses homens – que expõem a própria vida para tentar manter a ordem e a segurança no seio da sociedade –, eu não posso deixar de refletir aqui, no entanto, diante dos fatos destacados acima, sobre o quanto ainda vivemos uma cultura de guerra. Não mais a guerra contra povos vizinhos por esse ou aquele motivo político, pelo menos no nosso caso, mas uma guerra velada contra os nossos próprios irmãos de Pátria.

Vivemos uma guerra social em que o “maior” explora e massacra o “menor”, que, por sua vez, aguarda a oportunidade de virar o jogo. Uma guerra de egos que não faz vencedores nem vencidos, pois, como membros de um mesmo corpo, o mal que fazemos a outrem é um golpe que desferimos contra nós mesmos: o agressor de um momento será o agredido de outro e vice-versa.

Assistir à apresentação desses homens, que são treinados para atacar o inimigo (seja ele quem for), faz a população se sentir, de alguma forma, protegida e vingada – por isso, a euforia e o orgulho. Mas o que não se percebe é que, enquanto cultuarmos a força e as armas com tamanha reverência, a violência não sairá de nós e, por conseqüência, das entranhas da sociedade.

Sabemos que a ação das polícias é necessária no meio social, e será por um bom tempo ainda, até que o mal seja completamente erradicado do nosso planeta, mas também compreendemos que, quando os governantes e as famílias se dedicarem à educação na mesma proporção com que se ocupam em represar a violência, aquela sufocará os efeitos dessa, como a mente, que é capaz de reverter um desajuste orgânico quando reprograma as suas emoções e estabelece uma mudança de hábitos.

Em um processo mais avançado, quando o coração, digo, os sentimentos educados no bem, assumir o comando de tudo, então, conheceremos a paz: o governo se ocupando de instruir o homem e ofertar a todos as condições básicas para que tenham uma vida digna, e a família se encarregando de educar o ser num ambiente de respeito, cooperação e religiosidade. Seguindo o pensamento de Huberto Rohden sobre a educação, um fazendo o homem erudito e a outra, tornando-o bom e sábio.

Para o filósofo catarinense, a educação se reflete na sociedade, mas está radicada no indivíduo. Logo, enquanto não educarmos a própria consciência numa cultura de paz, estaremos favorecendo a violência e a guerra urbana, que cresce cada dia mais na nossa sociedade; enquanto não refrearmos os próprios instintos, colocarmos rédeas nas próprias emoções e acabarmos com a competição exacerbada que se instalou no mercado de trabalho e nas relações interpessoais – fazendo-nos crer sermos melhores que os outros –, continuaremos duelando entre nós ao invés de nos darmos as mãos.

Rohden lembra, numa entrevista à revista Visão, em 09/02/81, que os grandes malfeitores da humanidade não foram analfabetos, mas homens que não educaram a consciência. Criaturas que abusaram de tudo, inclusive de si mesmos, para satisfazerem os seus desejos. Noutro extremo, movidos pelo mesmo egoísmo, estão os “isolacionistas” evitando a interação social. Mas o “homem auto-educado” usa tudo sem abusar de nada e, sendo fiel à própria natureza, é feliz, embora nem sempre esteja livre da dor.

Nenhum comentário: