quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sobre silêncios, partidas e saudades...

No alto dos seus 81 anos era tão “antenada” que botava muitos jovens no chinelo...

Diz o grande filósofo catarinense Huberto Rohden que todas as coisas grandes são silenciosas porque são intensa atividade e exuberante plenitude: “A trajetória dos astros e dos átomos, o crescimento das plantas, a epopéia da luz, os mistérios da eletricidade, as maravilhas do pensamento, a grandeza do espírito, a vida eterna da Divindade, tudo isso é dinamicamente silencioso e inexaurivelmente fecundo”.

Excessivamente acostumados ao bombardeio de ruídos que sofremos diariamente, nós temos muita dificuldade de nos desvencilharmos da funesta “atrofia” de silêncio que acomete os ocidentais. Também pelos sentimentos e pensamentos desequilibrados que abrigamos na alma, sem as rédeas da vigilância e da oração, nos sentimos, muitas vezes, incomodados com a ausência de rumores (que, por vezes, apenas escondem os nossos vazios), como se o silêncio também não fizesse parte de nós.

Há um silêncio-treva, explica Rohden, e um silêncio-luz; um silêncio passivo e um silêncio ativo; um silêncio que é vacuidade e um silêncio que é plenitude; um silêncio que é triste como a morte e outro que é exultante como a vida. Todos, no entanto, são manifestações eloqüentes da natureza externa e interna do homem, que apenas podem ser observados quando ele estabelece uma comunhão com Deus e empreende a grande viagem do autoconhecimento, deixando de tomar o “pseudo-Eu-físico-mental” pelo elemento mais nobre da sua personalidade: o verdadeiro eu, que é o espírito.

Experiência que muitos vivenciam apenas depois de se despirem da veste carnal que os possibilita transitar pela existência terrena. Outros há que, nem assim, se dão conta da verdade fundamental da continuidade da vida, permanecendo aturdidos diante das evidências, barulhentos e perturbados, mesmo depois da morte, tão limitados estão às impressões da matéria.

Se buscarmos, desde já – enquanto tentamos acertar os passos sobre o solo desse maravilhoso planeta –, exercitar o silêncio reparador e construtivo através da meditação diária, com certeza, nos capacitaremos a lidar com as pequenas mortes a que estamos sujeitos no processo natural da existência e compreenderemos que essas aparentes perdas nada mais são do que nuanças próprias da vida, que é dinâmica e contínua aqui e além.

Seguindo o lúcido raciocínio do formulador da Filosofia Univérsica, eu vou sendo naturalmente induzida a lembrar da figura querida de Dona Terezinha (que empreendeu a grande viagem de volta no dia 28/08/08), que, acompanhando a filha, nos honrou diversas vezes com a sua presença na Rádio Difusora de Alagoas, durante o programa Momento Espírita.

Não que ela fosse assim uma pessoa contemplativa, muito pelo contrário, mas pela intensidade de vida que percebíamos na mãe de Eliane Rosa e Silva. No alto dos seus 81 anos era tão “antenada” que botava muitos jovens no chinelo: completamente lúcida, lia os jornais diariamente para se manter informada sobre tudo o que estava acontecendo em nossa cidade, no Brasil e no mundo e, algumas vezes, até se permitia a pequenas transgressões, como ultrapassar o tempo indicado pelo médico para as caminhadas matinais quando não era a filha que lhe acompanhava ou achava o dia bonito demais para ficar em casa.

Segundo Eliane, também era leitora assídua da página de Opinião de O Jornal e, toda terça-feira, enquanto minha amiga se arrumava para o trabalho, sua mãe lhe acompanhava nos preparativos, lendo para ela a minha crônica e fazendo breves comentários quando uma ou outra lhe tocava mais especialmente o coração.

Concluídas as tarefas na Terra, Dona Terezinha, certamente, há de se ocupar agora da continuidade da vida, e os afetos que deixou por aqui hão de encontrar respostas e consolo para a natural saudade de quem fica na plenitude do silêncio ativo e luminoso que souberem cultivar dentro de si.

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