É natural. Um dia a gente se cala mesmo, bota tranca na fala
e vai perdendo o interesse de se comunicar... Não sei como será isso, mas sei
que vai acontecer; e nada do que eu representei para o mundo antes, nem nada do
que a comunicação significou pra mim, um dia, vai fazer diferença nesse
processo.
Serei apenas uma voz esquecida ecoando dentro da minha
cabeça...
Paciência! Faz parte de quem se permite enveredar, de corpo
e alma, pelas trilhas incertas da vida na carne – essa fantástica aventura para
espíritos andarilhos e libertários como eu. Será apenas mais uma etapa da caminhada,
eu sei: talvez aquele trecho da jornada em que simplesmente se mergulha num
rigoroso inverno e se perde em meio à nevasca.
Deve ser algo como o que aconteceu com a minha escrita. Como
quem não respira palavras, e prescinde delas para manter-se viva, um dia eu tapei
o nariz e impedi a entrada do ar querendo acreditar que não tinha mais nada a
dizer... As palavras até nasciam na minha mente, formavam frases, que se uniam
e geravam pensamentos. Mas passeavam na minha memória dando voltas e voltas até
desistirem por completo e saírem pelo mesmo buraco que conseguiram entrar...
Porque acreditei mesmo que ninguém as queria ler, ou que
fosse bobagem o que eu queria compartilhar, fui acometida de um tremendo enfado
de escrever, sabe, e já não me interessava falar pelos dedos. Perdi o interesse
de manusear a caneta, o lápis, o teclado do meu notebook... e tudo o mais que servisse
para grafar pensamentos, descrever sentimentos e contar as histórias que eu tanto
gostava.
De repente, contar histórias virou ‘falar da vida alheia’ e
estudo de caso, ‘maledicência’. E a
palavra, de repente, começou a pesar na minha balança evolutiva. Ficou cada vez
mais difícil dizer alguma coisa sem parecer agressiva...
É, está sendo difícil usar as palavras por aqui...
Como para o asmático, é o excesso de palavras guardadas que tanto
me sufoca. E a ausência delas também...
Paciência! Prossigamos a jornada até o fim. Se estamos no
outono, o remédio é seguir em frente; se é o princípio do inverno, então vamos
ajustar a capa, firmar o passo e enfrentar a nevasca com paciência e coragem
até o fim.
Não há de ser nada. Não há de ser nada. Vai ficar tudo bem!
O princípio de LIBERDADE seja ainda a bandeira que nos move.
Ao infinito e além!
*outono de 2020.