Tenho resistência, confesso, para aderir a certos recursos que teoricamente facilitam a vida do homem moderno. Cartões de crédito, por exemplo, não os quero colecionar. Dois; no máximo! Cheque, só se houver necessidade. Celular – não me encantam os atributos vários que os modelos mais modernos, e mais caros, diga-se de passagem, possam ostentar –, a mim basta que escute e fale. Minha filha costuma dizer que em matéria de modernidade eu sou devagar. No fundo, acho que ela tem razão, mas prefiro ir “evoluindo” assim: despacita.
Outro dia me ligaram do banco para oferecer um crédito maior no cheque especial, pois sou cliente antiga e cumpro direitinho com meus compromissos. Pensei no quanto esse crédito tornaria a minha vida mais tranqüila. Mas logo me vieram à mente os infortúnios que essa facilidade também poderia acarretar: a ilusória crença de um poder de compra maior e a lista de necessidades que inconscientemente começaria a construir para fazer valer o poder adquirido. Não aceitei.
Alguém deve estar me achando radical, afinal, um pouco de facilidade não altera tanto a vida de uma pessoa ao ponto de fazê-la perder o controle sobre si mesma e, ao invés de respirar mais aliviada no final do mês, se afogar em subseqüentes endividamentos, certo? Errado. Tenho visto muita gente dita controlada perder a cabeça por conta de certas facilidades.
Uma amiga me ligou, outro dia, profundamente contrariada com a confusão que tinha feito por causa de um dinheiro “extra” que apareceu na sua conta...
Quando leu o extrato ficou surpresa ao perceber que o seu salário parecia estar esticando aquele mês. Apesar de ter cumprido com todos os compromissos e ter feito alguns gastos inesperados (como consulta, exames e a compra de remédios pro gatinho que adoecera de repente) seu dinheiro ainda rendia. Era a verdadeira multiplicação dos pães se materializando em sua conta bancária. E ela estava felicíssima.
Na verdade, não precisava de mais nada aquele mês, mas, como ainda tinha uma “laminha” no banco, começou a criar necessidades ‘extras’ até gastar toda a soma.
Findaram os trinta dias e ela estava satisfeita. Na sua distração, além da complexidade que alguns bancos criam ao disporem a movimentação bancária do cliente no extrato, a minha amiga acreditava mesmo ter sido agraciada com um presentinho, que poderia se tratar de algumas horas extras, ou o terço das férias, ou uma parte do décimo terceiro adiantado... Ou qualquer coisa assim.
O fato é que quando o mês seguinte chegou e ela se dirigiu ao banco para fazer seus pagamentos descobriu que tinha um “rombo” nas finanças: sessenta por cento do salário tinha sido “engolido” pelo banco. Desesperada, recorreu ao gerente para saber o que havia acontecido.
- “O fato é simples”, garantiu ele, lendo com destreza aquele amontoado de números no papelzinho que minha amiga lhe apresentara. “A senhora gastou cem por cento do seu cheque especial”, declarou o Sr. Fulano de Tal, com a mesma sensibilidade que um especialista declara ao paciente terminal que ele dispõe de apenas algumas semanas de vida.
Saiu meio cambaleante a minha amiga, sem diferenciar muito bem se o que via a sua frente era homem, mulher ou uma pilastra. E desapareceu dali o mais rápido possível. Mas não antes de voltar-se para o tal gerente e agradecer a ele com um minguado sorrisinho amarelo. E lá se foram dois longos meses de aperto e restrições até que conseguisse equilibrar de novo o orçamento da família.
Bom, é claro que nem todo mundo é tão distraído assim, mas que a maioria dessas facilidades faz com que se criem necessidades extras, absolutamente desnecessárias, ah, isso não se pode negar!
Outro dia me ligaram do banco para oferecer um crédito maior no cheque especial, pois sou cliente antiga e cumpro direitinho com meus compromissos. Pensei no quanto esse crédito tornaria a minha vida mais tranqüila. Mas logo me vieram à mente os infortúnios que essa facilidade também poderia acarretar: a ilusória crença de um poder de compra maior e a lista de necessidades que inconscientemente começaria a construir para fazer valer o poder adquirido. Não aceitei.
Alguém deve estar me achando radical, afinal, um pouco de facilidade não altera tanto a vida de uma pessoa ao ponto de fazê-la perder o controle sobre si mesma e, ao invés de respirar mais aliviada no final do mês, se afogar em subseqüentes endividamentos, certo? Errado. Tenho visto muita gente dita controlada perder a cabeça por conta de certas facilidades.
Uma amiga me ligou, outro dia, profundamente contrariada com a confusão que tinha feito por causa de um dinheiro “extra” que apareceu na sua conta...
Quando leu o extrato ficou surpresa ao perceber que o seu salário parecia estar esticando aquele mês. Apesar de ter cumprido com todos os compromissos e ter feito alguns gastos inesperados (como consulta, exames e a compra de remédios pro gatinho que adoecera de repente) seu dinheiro ainda rendia. Era a verdadeira multiplicação dos pães se materializando em sua conta bancária. E ela estava felicíssima.
Na verdade, não precisava de mais nada aquele mês, mas, como ainda tinha uma “laminha” no banco, começou a criar necessidades ‘extras’ até gastar toda a soma.
Findaram os trinta dias e ela estava satisfeita. Na sua distração, além da complexidade que alguns bancos criam ao disporem a movimentação bancária do cliente no extrato, a minha amiga acreditava mesmo ter sido agraciada com um presentinho, que poderia se tratar de algumas horas extras, ou o terço das férias, ou uma parte do décimo terceiro adiantado... Ou qualquer coisa assim.
O fato é que quando o mês seguinte chegou e ela se dirigiu ao banco para fazer seus pagamentos descobriu que tinha um “rombo” nas finanças: sessenta por cento do salário tinha sido “engolido” pelo banco. Desesperada, recorreu ao gerente para saber o que havia acontecido.
- “O fato é simples”, garantiu ele, lendo com destreza aquele amontoado de números no papelzinho que minha amiga lhe apresentara. “A senhora gastou cem por cento do seu cheque especial”, declarou o Sr. Fulano de Tal, com a mesma sensibilidade que um especialista declara ao paciente terminal que ele dispõe de apenas algumas semanas de vida.
Saiu meio cambaleante a minha amiga, sem diferenciar muito bem se o que via a sua frente era homem, mulher ou uma pilastra. E desapareceu dali o mais rápido possível. Mas não antes de voltar-se para o tal gerente e agradecer a ele com um minguado sorrisinho amarelo. E lá se foram dois longos meses de aperto e restrições até que conseguisse equilibrar de novo o orçamento da família.
Bom, é claro que nem todo mundo é tão distraído assim, mas que a maioria dessas facilidades faz com que se criem necessidades extras, absolutamente desnecessárias, ah, isso não se pode negar!
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