Olhou-me com olhos súplices e balbuciou palavras soltas, de
uma frase que ficou pela metade. Eu me aproximei tentando compreender o que ela
dizia e tudo o que decifrei foi um resmungue solitário, que mais parecia um gemido.
- um abraço... Soltou vacilante por entre os dentes, olhos
baixos, e uma expectativa inquietante pairou entre nós.
Eu lhe abri um sorriso, estendi os braços e fiz o convite
para encorajá-la:
- Chegue!
Sem qualquer resistência, a amiga levantou-se e se jogou em
meus braços, permitindo-se ser colhida pelo gesto carinhoso de uma irmã mais
velha. Quando nos separamos, parecia estar mais segura e confortada para
continuar a sua “via crucis”.
Como aí, há momentos na vida que ninguém pode fazer nada por
nós além de nos ofertar um ombro amigo. As dores que carregamos, sejam de ordem
moral ou física, são apenas nossas e não podem ser transplantadas para mais
ninguém.
São períodos difíceis. Dias e noites que se revezam
arrastados numa escuridão sem fim. São lentos, densos e tão compridos que
parecem intermináveis, mas têm que ser enfrentados com confiança e coragem
senão corre-se o risco de que não passem nuca mais.
São dias tão sombrios que precisam de um esforço maior de
nossa parte. Dores tão profundas que exigirão remédios mais fortes do que os
habituais. Momentos tão difíceis que, às vezes, será necessária uma ajuda
especializada... Mas não se pode prescindir da oração e da fé.
É preciso lembrar que, do mesmo jeito que nos são comuns os
flagelos íntimos, todos possuímos a capacidade de nos recompor interiormente e
continuar vivendo em equilíbrio e harmonia; todos temos um potencial criador
dentro de nós mesmos, e é essa força que nos impulsiona do quarto escuro das
nossas angústias para o campo fértil do amor altruísta quando decidimos não
sofrer mais.
O jornalista Marcel Souto Maior fala, na biografia
autorizada “As Vidas de Chico Xavier”, que o médium espírita sempre indicava, a
quantos o procurasse em busca de um consolo para as suas dores, a “laborterapia”.
Um remédio que há mais de dois mil anos é receitado pelo Cristo quando nos convida
a ir à busca do “infortúnio oculto”.
Fiel seguidor de Jesus de Nazaré, Chico experimentou, ele
próprio, a “benção do trabalho” como elixir salutar contra as dores da alma e os
males da vida durante toda a sua existência.
Aos que lhe procuravam reclamando
do vazio que lhes atormentava, fazendo deles criaturas tristes – a despeito dos
bens materiais, da família e da saúde perfeita, que possuíam –, ele apontava o
problema: - O que lhe falta é a alegria dos outros.
Às mães chorosas que lamentavam a “perda” dos filhos
queridos, como aos portadores de doenças incuráveis, entre tantos outros males
que afligiam os que buscavam as palavras benfeitoras do inesquecível médium de
Uberaba, a receita era a mesma: o exercício do amor ao próximo em ações
altruístas.
O trabalho como bálsamo para as nossas dores, cura para todas as
angústias da alma, antídoto contra a depressão e o suicídio, e o elixir da longevidade
e da alegria.
Como asseverou aquela amiga, ao cair da tarde, numa mensagem
de texto: “só o trabalho, a oração e um abraço amigo aliviam esses momentos”.
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