quarta-feira, 22 de julho de 2015

Três lições (para não se perder de si...)

(Foto: Yvette Moura)


Antes da dor, a ação; antes do erro, a reflexão; antes do instinto, a razão.

Às vezes, é assim. Não importa se está desenhado um dia lindo lá fora; se os pássaros reverenciam (fotoa benção da liberdade; se as crianças festejam na praça a misericórdia do véu do esquecimento; se os ponteiros do relógio apenas fracionam o correr ininterrupto do tempo...

Não importa se o ruído é alguém que chora; se a mãe que acalanta também tem fome; se quem bate à porta reclama solidariedade; se os males da alma têm corpo, nome, endereço...

Cá dentro, por algum motivo que nos parece plausível, trancamos as portas do convívio, apagamos a luz do entendimento e nos insulamos em nossos próprios conceitos, quase sempre distorcidos, como se fossemos a última das criaturas, o filho preterido por Deus.

Aos nossos olhos, como num espelho invertido, o horizonte está sempre escuro, o mundo emudecido e o tempo estagnado. É o fim da linha! – determinamos para nós mesmos.

Imersos na mágoa, negamos o perdão; orgulhosos, não percebemos o aprendizado que há por trás das frustrações; indisciplinados, desperdiçamos as horas, negligenciamos o trabalho, invertemos prioridades; invigilantes, perdemos o prumo, nos desviamos do caminho, cometemos atrocidades... E nos abandonamos à sorte.

Ah, o tempo, que não se submete aos ponteiros do relógio nem aos gritos dos voluntariosos... O mal, que não pode ser desfeito depois de arquitetado nas vielas obscuras da mente... O bem, que o preguiçoso se nega a construir e o egoísta a compartilhar... A palavra, que pronunciada sem responsabilidade, ou maliciosamente, pode desvirtuar ou ferir...

O que nos incomoda hoje, talvez seja apenas um reflexo das atitudes irrefletidas do passado, num momento que não está muito distante ou se perde na poeira dos tempos, lá atrás. Mas nada acontece ao sabor do acaso! Diz o sábio.

Abrir as janelas da alma só depende de nós. Reerguer os olhos, aprumar os ombros, buscar o equilíbrio e ensaiar novos passos são mecanismos de reajuste que se encontram apenas adormecidos, enquanto nos rebelamos contra os imperativos da Lei.

O auto perdão nos convida a sair da margem: é volver da escuridão e retomar a caminhada, empenhados numa nova semeadura!

A Lei é a Lei, afirma o benfeitor Clarêncio na obra de André Luís. Mas basta um movimento nosso na direção da Luz para que as sombras cedam passagem à iluminação interior.

A vida na carne é misericórdia divina proporcionando nova oportunidade. A ordem é ajustar os passos e seguir adiante, sempre para frente, procurando não repetir os equívocos do passado. Os dias que se sucedem, as experiências vivenciadas, o aprendizado extraído do erro, tudo conspira em nosso favor.

É aproveitar mais o que a vida nos oferta! Tomar posse de si; assumir as rédeas do próprio destino, com sabedoria e responsabilidade. Antes da dor, a ação; antes do erro, a reflexão; antes do instinto, a razão.

Vigia e ora, diz o Mestre, ciente do quanto ainda somos tolos e frágeis, vacilantes e infantis.

Quando a tempestade der sinais de aproximação, no horizonte azul de teus dias, reforça a guarda; vigia! – eis a primeira lição. Não permitas que o medo e o desânimo se instalem em teu íntimo. As alegrias passam e os males também.

Confia! – eis a segunda. Nunca se está sozinho, especialmente nas horas mais escuras do dia, nos momentos de maior aflição. Nunca te esqueças: almas queridas velam por ti.

E ama! – terceira e última. Dá de ti mesmo, vai mais além: trabalha e serve, sem esperar retorno.
Vigia e ora, confia e segue, dando à vida o que há de melhor em ti. E tudo mais virá por acréscimo, como diz o crente.

Assim também tem sido, na minha vida como na tua, até aqui.

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