(Foto: Yvette Moura)
Antes da dor, a ação;
antes do erro, a reflexão; antes do instinto, a razão.
Às vezes, é assim. Não importa se está desenhado um dia
lindo lá fora; se os pássaros reverenciam (fotoa benção da liberdade; se as crianças
festejam na praça a misericórdia do véu do esquecimento; se os ponteiros do
relógio apenas fracionam o correr ininterrupto do tempo...
Não importa se o ruído é alguém que chora; se a mãe que
acalanta também tem fome; se quem bate à porta reclama solidariedade; se os
males da alma têm corpo, nome, endereço...
Cá dentro, por algum motivo que nos parece plausível,
trancamos as portas do convívio, apagamos a luz do entendimento e nos insulamos
em nossos próprios conceitos, quase sempre distorcidos, como se fossemos a última
das criaturas, o filho preterido por Deus.
Aos nossos olhos, como num espelho invertido, o horizonte está
sempre escuro, o mundo emudecido e o tempo estagnado. É o fim da linha! – determinamos
para nós mesmos.
Imersos na mágoa, negamos o perdão; orgulhosos, não
percebemos o aprendizado que há por trás das frustrações; indisciplinados,
desperdiçamos as horas, negligenciamos o trabalho, invertemos prioridades;
invigilantes, perdemos o prumo, nos desviamos do caminho, cometemos
atrocidades... E nos abandonamos à sorte.
Ah, o tempo, que não se submete aos ponteiros do relógio nem
aos gritos dos voluntariosos... O mal, que não pode ser desfeito depois de arquitetado
nas vielas obscuras da mente... O bem, que o preguiçoso se nega a construir e o
egoísta a compartilhar... A palavra, que pronunciada sem responsabilidade, ou
maliciosamente, pode desvirtuar ou ferir...
O que nos incomoda hoje, talvez seja apenas um reflexo das
atitudes irrefletidas do passado, num momento que não está muito distante ou se
perde na poeira dos tempos, lá atrás. Mas nada acontece ao sabor do acaso! Diz
o sábio.
Abrir as janelas da alma só depende de nós. Reerguer os
olhos, aprumar os ombros, buscar o equilíbrio e ensaiar novos passos são
mecanismos de reajuste que se encontram apenas adormecidos, enquanto nos
rebelamos contra os imperativos da Lei.
O auto perdão nos convida a sair da margem: é volver da
escuridão e retomar a caminhada, empenhados numa nova semeadura!
A Lei é a Lei, afirma o benfeitor Clarêncio na obra de André
Luís. Mas basta um movimento nosso na direção da Luz para que as sombras cedam
passagem à iluminação interior.
A vida na carne é misericórdia divina proporcionando nova
oportunidade. A ordem é ajustar os passos e seguir adiante, sempre para frente,
procurando não repetir os equívocos do passado. Os dias que se sucedem, as
experiências vivenciadas, o aprendizado extraído do erro, tudo conspira em
nosso favor.
É aproveitar mais o que a vida nos oferta! Tomar posse de
si; assumir as rédeas do próprio destino, com sabedoria e responsabilidade.
Antes da dor, a ação; antes do erro, a reflexão; antes do instinto, a razão.
Vigia e ora, diz o Mestre, ciente do quanto ainda somos
tolos e frágeis, vacilantes e infantis.
Quando a tempestade der sinais de aproximação, no horizonte azul
de teus dias, reforça a guarda; vigia! – eis a primeira lição. Não permitas que
o medo e o desânimo se instalem em teu íntimo. As alegrias passam e os males
também.
Confia! – eis a segunda. Nunca se está sozinho,
especialmente nas horas mais escuras do dia, nos momentos de maior aflição.
Nunca te esqueças: almas queridas velam por ti.
E ama! – terceira e última. Dá de ti mesmo, vai mais além:
trabalha e serve, sem esperar retorno.
Vigia e ora, confia e segue, dando à vida o que há de melhor
em ti. E tudo mais virá por acréscimo, como diz o crente.
Assim também tem sido, na minha vida como na tua, até aqui.
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