terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Porque é Natal

“Não precisa mais ter medo. Revelei meu segredo pra ti. Te entreguei parte de minha alma”, escreveu outro dia um amigo, agradecido talvez, pelo tempo que reservei para conversarmos. Confesso que evitava esse encontro por que achei que houvesse outros interesses...

“Não há um nome bonito para essa dor, a não ser ‘dor’”, disse-me, no auge do seu ‘abrimento de alma’, revelando os sentimentos de homem ferido. A ex-mulher também diz que o ama, mas está determinada a não aceitá-lo mais.

O “amor” tem dessas coisas! Embora seja o sentimento que une pessoas, às vezes, distancia. Mas, isso só acontece, como diria Jesus, pela dureza dos nossos corações. Por que permitimos que o ressentimento, o medo de sofrer e a indiferença ocupem o espaço onde o amor deveria fluir.

Em verdade, relacionamentos afetivos só provocam dor por causa das chagas que ainda são cultivadas nos corações humanos: o orgulho e o egoísmo. O orgulho ferido gera a mágoa, que se transforma em ódio e desejo de vingança. O egoísmo insula o homem em seu próprio mundo, em meio aos seus medos, à satisfação dos próprios desejos e à indiferença. Em qualquer desses casos, paradoxalmente, é o “amor” aprisionando os seres.

Minha amiga Eliane Rosa e Silva dá a receita para livrar-se das mágoas, por exemplo, de uma união desfeita: “É preciso colocar imediatamente no lugar dos erros, as virtudes que aquela pessoa tem”. Ela aconselha a substituir a mágoa pela recordação do tempo em que foram felizes juntos.

Embora Lili esteja certa, a maioria das pessoas ainda não aceita pensar assim. No entanto, não há outro caminho para a harmonia interior do que a libertação dessas amarras. Erroneamente, pensando que vai beneficiar o outro, quem não aprende a perdoar, não consegue libertar a si mesmo, nem se permite ser feliz.

Ao iniciarmos a nossa conversa, meu amigo tinha um questionamento a fazer: “O meu amor é meu? Digo, o amor que eu sinto por uma pessoa, é meu ou é dela?”

Sua pergunta me fez lembrar do filme que assisti a alguns meses, estrelado por Omar Sharif e Pierre Boulanger: Uma amizade sem fronteiras. Ferido pela traição da primeira namorada, a mágoa do rapazola dá ensejo para que o experiente Ibrahim lhe ensine uma lição para o resto da vida: “O seu amor é seu!”

Pois bem! O amor que dedicas a alguém é teu, amigo, e não do outro. Por isso, se o ser amado não quiser, ou não souber, receber o amor que lhe queres dar, guarda a certeza de que não estás perdendo absolutamente nada. Aonde fores, com quem te relacionares, ou para onde quer que direciones as tuas energias, é o amor que há dentro de ti que irá conduzir as tuas ações.

Igual ao que acontece na cena final do filme Ghost, lembras? No momento em que consegue, finalmente, ser visto pela namorada – numa mostra de que o amor ultrapassa as fronteiras do tempo e do espaço –, Sam se despede, dizendo: “It’s amazing, Molly! The love you have, you take”. E segue adiante, dando curso a sua trajetória...

No período natalino, a atmosfera terrestre se modifica e toda a natureza nos convida a colocar o amor em movimento. Portanto, ao invés de voltarmos os olhos para aquilo que nos faz falta ou para aqueles, cujo egoísmo não lhes permite aceitar o amor que ofertamos, vamos em busca do infortúnio oculto, como sugere o aniversariante dessa data ímpar. Porque muitos anseiam pelo nosso amor...
Além do mais, este é o amor verdadeiro que tanto idealizamos. E não é de hoje que os amigos espirituais falam no eco de nossas almas: “Desilusão amorosa? Experimenta Jesus!”
@ para Narciso, que não teve medo de adotar como bússola o seu coração...


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