Pedi-lhe que repetisse, surpreendida com tamanha delicadeza. Emocionado, endireitou o corpo e soltou novamente suas palavras simples, mas sinceras, elaboradas com os mais belos fios do sentimento fraterno. E digo isso por que Juninho é como uma criança na pureza de suas ações.
Em verdade, nunca lhe falei, mas eu é que tenho uma admiração e um respeito profundos pela criatura que ele é. Vejo no Juninho um dos mais belos exemplos de perseverança e resignação.
Portador de uma doença neurológica crônica, provocada por um acidente ocorrido aos onze anos de idade (correndo, ele tombou com um poste), há muitos anos faz uso regular de medicamentos para inibir os ataques convulsivos recorrentes que o acometem desde o episódio da infância.
As drogas fortes, no entanto, atuam de tal forma na sua estrutura mental que, entre as várias seqüelas que deixaram, a dificuldade motora tem sido seu maior desafio. Mas, a despeito das limitações, além da origem humilde, Júnior tem natureza pró-ativa, não perdendo jamais a oportunidade de servir ao próximo e dedicar as horas do seu dia para o estudo espiritual e a prática do Bem.
Uma prova disso é a lucidez e a erudição que se observa nas questões que levanta nos grupos de estudo que participa e nas palestras que assiste com profundo interesse e atenção na Casa Espírita. Também na dedicação incontestável e total entrega sua nos trabalhos de caridade que abraça.
Com passos trôpegos, mas firmes, Juninho sabe exatamente aonde suas pernas o estão levando. Se questionado, tenho certeza, não desejaria outra vida – certo de quem é o Senhor a quem busca servir. Que falem por si os gestos nobres do seu coração...
Nas semanas que antecedem o Dia das Crianças, por exemplo, Junior se dedica a catar latas pelas ruas com a intenção única de vendê-las para comprar balas para as crianças da favela que atende semanalmente com o “trabalho da sopa”. Trabalho esse que ele não perde por nada!
A mesma atividade é realizada por ele nas noites de terça-feira. Só que nesse dia, leva pão com café e arroz doce aos “habitantes” das ruas de nossa cidade, espalhados pelos recantos escuros dos bairros do Centro e do Mercado. A todos Juninho recebe com o mesmo sorriso e as palavras de incentivo com que recepciona os freqüentadores da sexta-feira, na Casa Espírita em que ambos trabalhamos, quando os espera no portão, distribuindo as fichinhas e mensagens “Lições de Vida”.
Com os mais pequeninos, na linguagem do Cristo, eu diria que ele é até mais afetuoso. Aos trinta e poucos anos, fala-lhes como um pai ou irmão mais velho:
- Paulista, guarda a cola e vem tomar café!
- Galega, deixa de zanga e prova o arroz doce, que ‘tá uma delícia!
No Natal, Júnior não escreve cartas a Papai Noel ou espera presente de amigos. Direciona uma prece de agradecimento a Jesus – o aniversariante –, depois de percorrer a cidade distribuindo quentinha, bolo e refrigerante para seus “irmãos”. Pois aprendeu, em meio ao sofrimento e às limitações físicas e mentais, que felicidade não é atributo do corpo, mas uma construção do espírito.
Meu irmão, aceita esta crônica como um presente de Natal (porque há muito te devo um poema!). Mas quero que a leias como se fossem palavras simples, elaboradas com os mais belos fios do sentimento fraterno, dizendo assim: “Juninho, tu és como a borboleta: por onde passas, deixas teu olor.”
@pra Juninho.
4 comentários:
verdade, minha amiga.
penso que era a isso que o Mestre nos convidava a fazer quando dizia: aquele que quizer me seguir, pegue a sua cruz
e siga.
fica o exemplo!
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um beijo.
Seu pedido é uma ordem, Ana.
Seja bem vinda!
_________________________________:)
ñ consigo comentar no Palavra de Maria. Por favor, poste para mim...
Ana Oliveira :)
meu comentário é o seguinte e para todos os juninhos do mundo:
Transtorno
défice normal
do anormal cuidado
em sentinela
de guarita
montada em castelos
inventados
e reflectida
em sorrisos
imperfeitos
por vezes
rejeitados
por vezes
amados
Fiquei feliz e não surpreso por encontrar especificamente ESTAS PALAVRAS DE MARIA, em o Jornal, por ver lá, e pelas palavras em si que aprendamos com juninho e contigo que não nos deixou passar sem esta lição.
Parabéns.
Abs.
exatamente, meu amigo. todas as terças-feiras nossas Palavras também podem ser lidas nas páginas de O Jornal.
mas tua visita aqui é imprescindível!
um abraço.
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