quinta-feira, 13 de março de 2008

Enquanto estamos à caminho...

As enfermidades são grandes oportunidades de expurgo e de transformação.


A sabedoria divina é fantástica. Tudo na natureza funciona dentro de uma lógica e uma harmonia perfeitas. É preciso, no entanto, ficar atento aos pequenos sinais de Deus para aproveitarmos o melhor das oportunidades que nos são ofertadas. É necessário ajustarmos os olhos para ler o que está nas entrelinhas e captar a mensagem subliminar das situações que vão surgindo.

A dificuldade que nos bate à porta, uma notícia inesperada, um desafio, uma mudança brusca em nossa vida, um reencontro, a visita da dor; tudo exige uma boa dose de reflexão, compreensão e atitude (não exatamente nesta mesma ordem).

Lidar com as perdas ou com a morte, por exemplo, faz parte da própria vida. As enfermidades são grandes oportunidades de expurgo e de transformação. Mas, geralmente, somos pegos de surpresa quando uma ou outra nos visita, reclamando atenção e cuidados. Levamos a existência como se viver fosse uma experiência linear e, então, acabamos nos frustrando, quase sempre.

Já dizia o célebre químico francês Antoine Laurent de Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde: tudo se transforma”, logo, não deveríamos nos espantar tanto com as intempéries da vida, em seu livre chegar e partir, nascer e morrer constantes, porque a vida é contínua e dinâmica. Deveríamos, sim, aproveitar essa existência para compreendermos melhor os desígnios de Deus, pois, a todo instante, estamos sendo convidados à autotransformação.

Outro dia conversava com a amiga psicóloga Maria Helena Soares sobre os problemas de saúde que o Ping – nosso cachorrinho de estimação – está enfrentando, quando ela me fez uma pequena provocação: - Você sabe por que Deus deu ao cachorro um tempo de vida bem menor que o do homem? – e eu fiquei lhe olhando firme, esperando que concluísse o raciocínio – Foi para que os seres humanos pudessem acompanhar o seu desenvolvimento, numa espécie de preparação para a vida.

- Como assim? Questionei, insistindo que se aprofundasse na exposição de suas idéias.

- Com os bichinhos de estimação, as crianças ensaiam o que vão viver com os seus entes queridos: as descobertas, as alegrias, a afetividade, o companheirismo, a doença, as limitações, os cuidados, a morte... O desapego.

Encontrando uma profunda lógica na leitura que Helena fez da relação do homem com o “seu melhor amigo”, e vendo ali sinais bem característicos da obra de Deus, fiquei a considerar aqueles argumentos com a lembrança do Ping correndo de um canto a outro da minha memória.

Perto de completar dez anos, o bichinho já apresenta certa lentidão nos movimentos, um olhar mais turvo, um visível cansaço existencial (se é que posso me expressar assim em relação a um animal) e uma série de limitações orgânicas começam a surgir no nosso mascote, pois na escala de relatividade com os seres humanos, cada ano do cão corresponde a sete do homem e, de acordo com a escala, Ping estaria chegando aos setenta anos.

Recentemente ouvi do veterinário que ele tinha problemas cardíacos e que teria que tomar medicação até o fim da vida. Deveríamos controlar a sua alimentação e preservá-lo de emoções fortes, além de outras recomendações. Vi então o semblante de Jade se entristecer e a consciência lhe cobrar algumas práticas da infância, como dar sustos no companheiro de incontáveis brincadeiras.

- Será que foi por isso que ele ficou cardíaco, mãe? Questionou a menina, inquieta com suas lembranças.

- Claro que não, minha filha! Ao invés de ficar se culpando, veja o que você pode fazer agora para ajudá-lo a ficar bem.

E desde então temos nos revezado nos cuidados com o animalzinho. Preparando-nos para momentos mais difíceis que possam vir pela frente e aprendendo que o amor é um sentimento que se desenvolve em pequeninas ações, enquanto estamos a caminho...

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