quinta-feira, 30 de abril de 2009

Pra festejar a vida...

De frente pra tela, alongo o corpo, estico o pescoço para um lado e depois para o outro, inspiro, solto o ar pela boca e só então é que ponho as mãos sobre o teclado do computador e deixo os dedos correrem livres e dançarem o quanto quiserem sobre o alfabeto disposto à minha frente.

Cada um, em seu quadrado, faz um bamboleio próprio e sobe, desce, rodopia, e traça o seu bailado particular como se fora um imprescindível membro de um corpo de balé, que, em pleno palco, desempenha o seu papel num grandioso espetáculo.

Na tessitura do texto, cada dedo tem uma função: o mindinho esquerdo pressiona o A, pula sobre o Q e desliza para o Z, enquanto o “fura-bolo” da mão direita repousa sobre o J, mas pode saltar com destreza para o U, o H e o Y, e ainda rolar sobre o M e o N sempre que for preciso...

Regida pela deliciosa sinfonia do teclado em plena atividade, eu vou escolhendo as palavras que melhor expressem os meus sentimentos – que saltam da alma, irrequietos, por já não suportarem mais ficar represados na escuridão da intimidade.

E serás tu, leitor amigo, o nobre convidado a manipular com as mãos, perquirir com os olhos e ponderar com o coração o texto produzido. É para ti que dedico as horas de reclusão e entrega a que me permito, enquanto a vida corre lá fora e chega aos meus ouvidos apenas pelo grito da criançada, pela buzina dos carros, a madeira sendo carcomida pela serra, nas construções civis...

Enquanto o cheiro do almoço sendo feito vai invadindo as minhas narinas – a carne assada e o feijão cozido estimulando as glândulas salivares...

E os meus olhos se ressentem com a luminosidade incontestável das manhãs de outono, que entra pela janela...

E a brisa preguiçosa chega, em grandes intervalos, atravessando o quarto e vindo se aninhar entre as onduladas madeixas caídas sobre os meus ombros, e eriçar os pelos dos meus braços em ligeiros calafrios quando o bafejo suave bate de frente com o calor do mormaço...

É para ti, amigo, estas palavras tantas que eu escrevo e as cenas singelas que descrevo. Apenas para que saibas o quanto te levo em conta e o quanto desejo, sinceramente – a exemplo da brisa –, ser um refrigério para a tua alma dorida.

Ainda que eu nada dissesse de novo, que escrevesse palavras repetidas, que as cenas que eu descrevesse já tivessem sido vistas, saiba que tas dedico como um sopro suave numa ferida aberta ou qual prece de mãe, balbuciada ao leito do filho, rogando ao Pai que leve para longe as impressões atemorizantes de algum pesadelo.

Tudo o que aqui for escrito não terá valor nenhum para mim se, ao fim da leitura, não te fizer soltar aliviado suspiro nem te inspirar o pensamento ao Alto com a certeza de que um ser maior – infinitamente maior do que nós – também zela por ti.

Daqui da altura mediana em que me encontro (talvez ainda um pouco abaixo), também estarei sorrindo para Deus, profundamente agradecida, por ter, de alguma forma, servido de ponte para reaproximar o filho do Pai, reavivando em sua mente as cores exuberantes do amor divino. Porque este amor é como a vida, que estua ao nosso redor mesmo que a gente não se dê conta...

Cabe a cada um – para dar acesso ao hálito que nos renova as forças e faz crescer a fé e a esperança num futuro melhor – manter abertas as janelas da alma e retirar as trancas da porta para que o coração possa sair ao sol, abraçar o próximo e compartir com o mundo a alegria de viver.

Foi por isso, só por isso, que eu hoje resolvi não contar nenhum causo engraçado ou fazer aquelas reflexões mais profundas. Como quem manda notícias, telefona a um amigo ou estende a mão a um desconhecido, eu te escrevo. E te convido a espalhar a alegria por aí – nos outros tantos sorrisos que tu podes acender – pra festejar a vida.

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