quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um céu de estrelas...

Engolidos pelas urgências do cotidiano ou pelos compromissos que a vida adulta nos impõe, algumas vezes enfrentamos os dias como se fossem cargas pesadas demais para os nossos ombros. Então, nos arrastamos um-dia-após-o-outro sem um sorriso nos lábios, respirando pela metade, entregues ao desânimo, sentindo pena de nós mesmos.

Este “cantinho” pode até parecer cômodo, mas não resolve nada nem nos ajuda a crescer. Ali, guardados, fazemos como o sapo medroso, que recusa o convite da rã para dar uma voltinha e ver as milhares de estrelas que pendem do espaço infinito, preferindo acreditar que só existe um astro luminoso pendurado no céu: aquele que é possível ser visto do buraco em que se esconde.

A vida adulta reclama novas posturas, sem falar nos constantes desafios que se interpõem entre um período de calmaria e outro, chamando-nos ao amadurecimento psicológico. Algumas pessoas, no entanto, se recusam a completar o ciclo natural da experiência terrena, logo, a criança que um dia foram insiste em se perpetuar no tempo, birrenta e voluntariosa, reclamando cuidados e privilégios. Outras “param” na adolescência, vivendo em eternos conflitos e na inadequação à idade cronológica.

No fundo, no fundo, nós somos todos carentes, necessitados de atenção e amor. Mas a forma como lidamos com isto é que vai ser determinante na nossa trajetória...

Numa postura infantil, alguns gastam o seu tempo esperando (às vezes exigindo) que o outro – tão carente quanto eles próprios – seja o mantenedor do afeto de que se julgam merecedores. Contudo, se esquecem de dar o melhor de si para suprir as carências alheias. Competições várias (entre pais e filhos, irmãos, amigos, colegas de trabalho, etc.) surgem desse vazio gerado pelo egoísmo.

O imaturo sempre espera ser servido e, como uma criança, desenvolve mecanismos para conseguir tudo o que quer, seja pelo grito, pela mentira, pela violência, pela chantagem ou por qualquer outro meio que não exponha a sua fragilidade ou a sua insegurança.

Por conta disso, infantis num ponto ou noutro, seguimos pela vida usando máscaras sociais para forjar um caráter que ainda não temos, ao mesmo tempo em que esperamos do outro toda a honestidade e compreensão que não nos esforçamos para possuir.

Joanna de Ângelis, veneranda mentora espiritual e profunda estudiosa da Psicologia Profunda, orienta, no entanto, que cada um é a única pessoa com quem poderá contar desde o princípio até o fim da existência, alertando que o antídoto contra o vazio que nos assola está dentro de nós mesmos. O amor que damos é o amor que nos alimenta.

Mais do que palavras bonitas, foi esta a mensagem que deixou para o mundo o poverello de Assis com a sua oração: “Fazei-me instrumento de Vossa paz!”. O amor que imploramos, o perdão que ansiamos, a alegria que nos falta está no nosso semelhante. Não porque os outros sejam virtuosos e nós os eternos necessitados, mas porque o outro é a ponte que nos conduzirá ao melhor de nós.

De posse dos nossos talentos e com o total controle sobre as nossas “necessidades”, aonde formos, no momento que seja, estaremos inteiros, plenos e felizes. E ainda poderemos ser para o outro a ponte que ele necessita para chegar a si mesmo.

Igual àquela manhã em que, passeando com Ping, vi parar à minha frente uma desconhecida, que me interceptou dizendo: - Moça, eu fico bem de vestido? Surpresa, respondi-lhe sorrindo que estava muito bem. Então, ela me explicou que era a primeira vez que usava um vestido. “Estou me sentindo estranha!”, revelou, lembrando que o marido a incentivara a usar a peça mesmo assim.

Reafirmei que estava bonita (e estava mesmo!) e a vi seguir para o trabalho feliz da vida. Com um sorriso nos lábios e o coração cheio de alegria continuei o passeio refletindo sobre o quanto nós somos carentes...

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