quinta-feira, 2 de julho de 2009

Na esfera dos afetos...

Eu estava chegando à adolescência quando ela entrou na minha vida e me permitiu viver a fantasia de ser mãe de uma menininha tão linda, que mais parecia uma princesa...

Eu ajudava Ana no jantar e, mais tarde, me debruçava sobre a pia da cozinha – feliz da vida! – para lavar a louça, enquanto a minha irmã botava a filha para dormir e se recolhia com o marido. Terminada a tarefa, eu me dirigia para o quarto de hóspedes e gastava ainda algum tempinho lendo, desenhando, escrevendo ou admirando aquele bebezinho fofo que dormia ao meu lado em seu berço/carrinho.

Eu tinha 14 anos quando Aninha nasceu – sete a mais do que Ana quando eu vim ao mundo, e ela me acolheu como se tivesse ganho uma bonequinha. Imagino, então, que fantasias a minha irmã não deve ter criado na sua cabecinha para me carregar vida afora como se fôssemos realmente mãe e filha.

O fato é que mamãe, talvez impulsionada por uma força maior, deu-me à irmã mais velha como afilhada e, depois disso, os nossos laços se apertaram ainda mais. Quando chegou a sua primogênita, parecia natural que eu a adotasse como irmã caçula e que fosse escolhida também para ser a sua madrinha...

Já grandinha, Aninha me puxou para um canto do quarto várias vezes, e me pediu para sentar ao seu lado e lhe contar – como se fora um segredo só nosso – como haviam sido os seus primeiros anos de vida quando eu aportava em sua casa “de mala e cuia” e cuidava dela como se fosse a minha menininha.

Pelo largo sorriso estampado em seu rosto, eu percebia a satisfação que ela sentia ao saber que fora acolhida com tanto carinho e desvelo por aquela mistura de tia, madrinha, irmã e segunda mãe.

Quando nasceu a minha primeira filha, portanto – num Sábado de Aleluia, no início da década de 90 –, Jade já estava prometida Aninha, que a acolheu com os mesmos cuidados de uma irmã mais velha. A minha sobrinha contava apenas nove anos quando isso aconteceu, mas recebeu a chegada da prima como quem ganha um lindo presente pascal, adotando-a também como sua filhinha.

Amigas e admiradoras uma da outra, hoje, Jade e Aninha já sabem que se tornarão comadres quando esta tiver o seu primogênito. Aninha tem certeza de que o seu rebento será muito amado e que também encontrará nos braços da sua afilhada os desvelos sinceros de uma segunda mãe. Até que chegue a vez de Jade dar à luz, e as duas começarem toda essa história mais uma vez...

Comigo, Aninha sabe que pode contar incondicionalmente. Mais do que tia e sobrinha, madrinha e afilhada, a nossa relação é de profunda amizade, em que tudo o que se deseja é o bem-estar uma da outra. Já entre Ana e eu, o passar dos anos foi imprimindo nuanças diferentes à relação de mãe e filha que criamos. Em muitos momentos, nós trocamos os papéis e experimentamos, tanto uma quanto a outra, o compromisso afetivo de dar a “maternagem” que a irmã precisa.

Por obra do Criador, o entrelaçamento das relações afetivas nunca terá fim porque ele faz parte do engenhoso mecanismo da vida (simples e complexo ao mesmo tempo), que, através da Lei de Reencarnação – irrevogável e imutável como toda lei natural – permite aos seres se reencontrarem infinitas vezes pela longa estrada da vida; tantas vezes quantas forem necessárias para o seu aprimoramento, no infinito aprendizado do amor.

Trocando os papéis a cada nova existência, apesar da diferente roupagem com que se revestem a cada nova experiência na carne, as almas afins estarão sempre se encontrando e se reconhecendo de acordo com o grau do sentimento que as une...

Na aprendizagem do amor é assim que as nossas trajetórias vão sendo construídas, até que um dia todos nós sejamos anjos – como diz o grupo Acorde –, habitando esferas que a humanidade de hoje ainda desconhece. Sempre a caminho da luz... Sempre!

@para Ana e Aninha, é claro!

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