sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Viver com arte...


(foto: Yvette Moura)


Estamos acostumados a acompanhar diariamente pela telinha ou, eventualmente, pela telona, na literatura, no teatro – enfim, nas várias expressões artísticas – inúmeras histórias de amor sem final feliz. Na maioria das vezes, revelando a incapacidade das personagens em enfrentar os obstáculos da vida ou mesmo os descaminhos criados pela própria criatura humana na desenfreada corrida de busca pela felicidade.

São histórias que falam de desencontros, sofrimento, traições, lágrimas e desilusões amorosas tão profundas, que, por vezes, são capazes de afastar pessoas que se gostam pelo “resto da vida”, quando não protagonizam verdadeiras tragédias...

As situações criadas, às vezes, parecem tão absurdas que beiram o inverossímil, e acabamos por creditar à genialidade do autor pelas intrigas e pelos impedimentos vários, que acabam separando seres que se querem bem de verdade. Muitas vezes, observa-se até um certo requinte de perversidade do autor na construção da trama de uma novela, de um filme ou de um romance.

Mas, quando um fato inesperado, que mais parece “coisa de cinema”, acontece na sociedade, as pessoas costumam se questionar sobre quem imita quem: se a arte ou se a vida...

Se observarmos com mais atenção, não são poucas as vezes em que a arte nada mais é do que uma cópia romanceada das histórias absurdas, mas verdadeiras, que acontecem no cotidiano da nossa sociedade, cujas personagens – com seus melodramas – nada mais são do que representações quase perfeitas de nós mesmos.

Quem não se remete, por exemplo, às intrincadas tramas criadas pelo escritor e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues – cuja obra faz duras críticas à sociedade e às suas instituições, sendo permeada por traições, erotismo e perversão, muitas vezes, dentro da própria família – quando a imprensa noticia mais um caso de incesto, pedofilia ou violência doméstica?

Por outro lado, quem não enche os olhos d’água ao ver um jovem casal apaixonado trocar as alianças, remetendo-se, com este gesto simbólico, aos “felizes para sempre” dos contos de fada? Ou quando assiste a uma comemoração das bodas de um par que, apesar dos convites mundanos, das dificuldades naturais de uma união longa e do aumento do número de divórcios, conseguiu construir uma família numerosa e alvejar os cabelos juntos, numa relação de cumplicidade, companheirismo, respeito e amor?

E aquelas pessoas que, apesar de se amarem profundamente, terem inúmeras afinidades e aspirarem o mesmo ideal de felicidade, se permitem tomar rumos diferentes e desistir da companhia uma da outra por intricados preconceitos ou por questões absolutamente contornáveis, não nos parecem personagens recém-saídos das páginas de um livro ou das telas do cinema? Que o diga o estreante Eduardo Baszczyn, com o seu “Desamores”, que conta a história de pessoas que até encontram o grande amor da sua vida, mas se deixam perder dele por questões secundárias e banais...

Tenho acompanhado várias histórias assim e, confesso, que não consigo entender por que nós complicamos tanto a vida, criando dificuldades e empecilhos desnecessários e até irreais. Às vezes, o amor bate à nossa porta e nos convida a compartilhar a vida com alguém muito querido, mas morre à míngua porque permanecemos trancados em nossas cascas.

Talvez, por isso, haja tanta gente solitária e infeliz; isolada em suas casas, cuidando dos seus bichos de estimação como se fossem filhos, com medo de se relacionar com os seus iguais...

Nesses dias vazios por que passa a humanidade, é imprescindível sair do casulo e se permitir ao abraço. Não nas “raves” nem nas “baladas”, confundindo amor com emoção barata, mas nos encontros de almas, fazendo da vida uma verdadeira obra-de-arte.

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