quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Retalhos do tempo...

Ontem eu recebi um presente singular. Por e-mail, um amigo de infância, que eu não vejo há alguns anos, enviou-me duas fotografias de uma sala do antigo Grupo Escolar Padre Antônio Callou de Alencar, que fica no Alto da Parazita, em Canhotinho-PE. Junto a elas, apenas um cumprimento matinal, mas o gesto simbólico me remeteu a dois eventos especiais, vivenciados naquela, hoje, escola – onde fizemos juntos a 1ª série –, que foi palco de algumas das mais doces lembranças que guardo da cidade onde nasci.

Em 24 de novembro de 2002, pouco mais de um ano após o desencarne da minha mãe, a professora Maristela fez uma singela homenagem àquela, que dedicou os anos mais produtivos da sua vida a essa escola, ao inaugurar a sala de informática e nomeá-la Sala Ivete Neves de Moura.

Naquela oportunidade, o meu pai estava hospitalizado, no Recife, e eu viajei logo cedo para Canhotinho, numa ensolarada manhã de domingo, a fim de receber a homenagem em nome de toda a família. Por ser a mais eloquente dos irmãos, segundo eles, recebi a indicação compulsória para escrever algumas palavras de agradecimento e representá-los no evento, que reuniu professores, alunos e convidados ilustres da sociedade canhotinhense.

Emocionada, lembrei do amor que mamãe nutria por seus alunos e por aquela instituição de ensino e reafirmei a imensa contribuição dada por ela ao criar o hino oficial da “Padre Callou” e idealizar a sua bandeira.

As fotos de Allan mostram, uma, o cômodo amplo, repleto de computadores e decorado com um painel infantil; a outra, o rosto de mamãe sobre a porta, à entrada, estampando o seu largo sorriso numa foto tirada por mim. Voltei no tempo...

“Quem não se lembra da velhinha carismática que nos últimos anos, em suas caminhadas, distribuía abraços e sorrisos pelas ruas de Canhotinho?” – questionava eu no texto tecido na véspera, como uma colcha de retalhos, alinhavada com fios de saudade.

“Hoje em dia – seguia lembrando que dona Ivete era uma mãe também para os seus alunos –, bem poucos profissionais se vê que desempenhem a grandiosa tarefa de educar com tanto prazer e dedicação como ela fazia. À mesa repleta de cadernos, corrigíamos com ela as tarefas de casa e acompanhávamos o seu empenho na elaboração de cartazes e material didático para dinamizar as suas aulas. Atividades extraclasse, piquenique, tudo ela inventava para fugir ao lugar comum na prática do ensino...”.

O gesto do amigo também trouxe de volta uma das lembranças mais remotas desse meu coração sonhador: o menino Allan, em quem personalizei o amor aos 7 anos de idade. Uma lembrança gostosa com a pureza e a inocência da infância – esse período mágico da vida em que tudo é possível; até os desencontros...

A vida correu célere e tomamos rumos bem diferentes, Allan e eu. Mas, como atados por um sonho que nunca se concretizou, jamais nos desligamos totalmente um do outro. Contudo, só quando nos encontramos de novo, 27 anos depois, foi que nós descobrimos o que havia nos mantido distantes esse tempo todo: um não sabia que era correspondido pelo outro.

Adultos, cada qual com os seus compromissos, já não era possível mudar a realidade. Mas foi uma delícia ouvir o homem falar daquele menino, que eu gostava tanto, e saber que ele chegou a me pedir em namoro... Namoro?! Pois é. Allan me contou que, um dia, ficamos frente a frente, no birô da professora, então, com medo de não ter outra oportunidade tão perfeita, o moleque não contou história e arriscou o pedido: olhou fixamente para a amada e, sentindo o coração a lhe pular pela boca, piscou o olho para ela.
- E eu, o que fiz? Perguntei-lhe, curiosa, esquecida do episódio que o marcara tanto.
- Enrubesceu e gritou: - Professora, Allan tá me aperreando!


@para Allan Maia, é claro. Como um sorriso...

4 comentários:

Anônimo disse...

"Alto da Parazita"?!! Mas só podia ser mesmo em Canhoto Pequeno... Mas, deixando de lado a cidade com a qual não tenho nenhuma intimidade (daí não chamar pelo nome)... Lindo texto, Yvette. Passar por aqui, sempre proporciona uma leitura gostosa.
bjos,
S.

Yvette Maria Moura. disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk...
pois é, amor,
o nome é esse aí mesmo.
e falar sobre ele dá sempre um calorzinho gostoso no peito, que só as boas lembranças são capazes de provocar. rss...
é sempre bom receber a sua visita por aqui, viu? volte sempre!!!
bjos,
MM.

Allan Maia - Canhotinho/PE disse...

Você me fez encher de lágrimas os olhos. Obrigado! Amo você!

Yvette Maria Moura. disse...

Lindo...
Também amo vc!