Em 24 de novembro de 2002, pouco mais de um ano após o desencarne da minha mãe, a professora Maristela fez uma singela homenagem àquela, que dedicou os anos mais produtivos da sua vida a essa escola, ao inaugurar a sala de informática e nomeá-la Sala Ivete Neves de Moura.
Naquela oportunidade, o meu pai estava hospitalizado, no Recife, e eu viajei logo cedo para Canhotinho, numa ensolarada manhã de domingo, a fim de receber a homenagem em nome de toda a família. Por ser a mais eloquente dos irmãos, segundo eles, recebi a indicação compulsória para escrever algumas palavras de agradecimento e representá-los no evento, que reuniu professores, alunos e convidados ilustres da sociedade canhotinhense.
Emocionada, lembrei do amor que mamãe nutria por seus alunos e por aquela instituição de ensino e reafirmei a imensa contribuição dada por ela ao criar o hino oficial da “Padre Callou” e idealizar a sua bandeira.
As fotos de Allan mostram, uma, o cômodo amplo, repleto de computadores e decorado com um painel infantil; a outra, o rosto de mamãe sobre a porta, à entrada, estampando o seu largo sorriso numa foto tirada por mim. Voltei no tempo...
“Quem não se lembra da velhinha carismática que nos últimos anos, em suas caminhadas, distribuía abraços e sorrisos pelas ruas de Canhotinho?” – questionava eu no texto tecido na véspera, como uma colcha de retalhos, alinhavada com fios de saudade.
“Hoje em dia – seguia lembrando que dona Ivete era uma mãe também para os seus alunos –, bem poucos profissionais se vê que desempenhem a grandiosa tarefa de educar com tanto prazer e dedicação como ela fazia. À mesa repleta de cadernos, corrigíamos com ela as tarefas de casa e acompanhávamos o seu empenho na elaboração de cartazes e material didático para dinamizar as suas aulas. Atividades extraclasse, piquenique, tudo ela inventava para fugir ao lugar comum na prática do ensino...”.
O gesto do amigo também trouxe de volta uma das lembranças mais remotas desse meu coração sonhador: o menino Allan, em quem personalizei o amor aos 7 anos de idade. Uma lembrança gostosa com a pureza e a inocência da infância – esse período mágico da vida em que tudo é possível; até os desencontros...
A vida correu célere e tomamos rumos bem diferentes, Allan e eu. Mas, como atados por um sonho que nunca se concretizou, jamais nos desligamos totalmente um do outro. Contudo, só quando nos encontramos de novo, 27 anos depois, foi que nós descobrimos o que havia nos mantido distantes esse tempo todo: um não sabia que era correspondido pelo outro.
Adultos, cada qual com os seus compromissos, já não era possível mudar a realidade. Mas foi uma delícia ouvir o homem falar daquele menino, que eu gostava tanto, e saber que ele chegou a me pedir em namoro... Namoro?! Pois é. Allan me contou que, um dia, ficamos frente a frente, no birô da professora, então, com medo de não ter outra oportunidade tão perfeita, o moleque não contou história e arriscou o pedido: olhou fixamente para a amada e, sentindo o coração a lhe pular pela boca, piscou o olho para ela.
- E eu, o que fiz? Perguntei-lhe, curiosa, esquecida do episódio que o marcara tanto.
- Enrubesceu e gritou: - Professora, Allan tá me aperreando!
@para Allan Maia, é claro. Como um sorriso...
4 comentários:
"Alto da Parazita"?!! Mas só podia ser mesmo em Canhoto Pequeno... Mas, deixando de lado a cidade com a qual não tenho nenhuma intimidade (daí não chamar pelo nome)... Lindo texto, Yvette. Passar por aqui, sempre proporciona uma leitura gostosa.
bjos,
S.
kkkkkkkkkkkkkkkk...
pois é, amor,
o nome é esse aí mesmo.
e falar sobre ele dá sempre um calorzinho gostoso no peito, que só as boas lembranças são capazes de provocar. rss...
é sempre bom receber a sua visita por aqui, viu? volte sempre!!!
bjos,
MM.
Você me fez encher de lágrimas os olhos. Obrigado! Amo você!
Lindo...
Também amo vc!
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