quarta-feira, 31 de março de 2010

Ao mestre, com amor...

Eu não me recordo ao certo quantos anos tinha quando ouvi falar sobre ele pela primeira vez, mas lembro-me que já escrevia as páginas ensolaradas da adolescência quando o seu exemplo de fé, e a dedicação de toda uma vida, foram preponderantes para que eu tomasse a decisão fundamental.

No frescor da juventude, o meu espírito questionador queria muito mais do que respostas prontas e dogmas, que mais limitavam e tolhiam o meu entendimento do que satisfaziam a insaciável ânsia de saber. Encontrei na Doutrina Espírita perguntas e respostas inteligentes, que saciaram a minha curiosidade sobre a dinâmica da vida, e apontamentos ricos em informações e ensinamentos, que só têm ampliado dia-a-dia a minha capacidade cognitiva e de compreensão.

O Espiritismo descortinou muito mais do que um mundo novo para mim: trouxe um olhar diferenciado sobre as coisas e as pessoas e me deu um sentido para a vida, pleno de fé e alegria de viver. E Chico Xavier foi o referencial maior tomado por mim quando decidi abraçá-lo verdadeiramente como ciência, religião e filosofia de vida. Um homem que dedicou toda a sua existência a essa doutrina – pensava eu – não pode ter tomado o bonde errado.

Quem me viu menor sabe o quanto cresci amparada pelos ensinos dessa doutrina. O sorriso vago da menina que fui tornou-se mais franco e sincero nos lábios da mulher que me tornei; o discurso da adolescente irrequieta – que pensava em mudar o mundo com a força da irreverência e da sua rebeldia – ganhou solidez, conteúdo e maturidade na voz da mulher que, hoje, crê na transformação íntima como o poder que cada um tem para construir um mundo melhor...

Assim como eu, muitos se espelharam em Chico para escolher um caminho a seguir. Também os que choravam a perda de entes queridos, os que buscavam respostas para um momento difícil, os que rogavam a Deus por uma mão amiga nos dias tormentosos das adversidades, os que buscavam um referencial para formar o seu caráter, encontraram no médium simples e humilde de Pedro Leopoldo o irmão maior, leal e sincero, cujo único desejo era confortar, amparar e servir. Ninguém jamais saiu da sua companhia sem se sentir um pouco mais feliz.

Agora em abril, o Brasil inteiro vai comemorar o centenário de nascimento de Francisco Cândido Xavier, que acontece nesta sexta-feira (02). As federações espíritas de cada Estado dessa Nação organizaram um vasto calendário de eventos comemorativos em alusão aos 100 anos daquele que foi considerado o Mineiro do Século. Espíritas e não espíritas, todos temos muito a agradecer a este irmão querido, que há oito anos partiu para as esferas espirituais e foi recebido pelo próprio Jesus, tenho certeza, porque muito amou.

Pelo teu exemplo de verdadeiro cristão, pelos livros consoladores e educativos que psicografaste para nos tirar das sombras da ignorância, pelas palavras doces e amigas de todas as horas, pelas lágrimas que derramaste junto às mães dos filhos que partiram prematuramente... Muito obrigada/o, Chico! Em tua homenagem, e em nome de todos os brasileiros que, de um jeito ou de outro, foram beneficiados por ti, eu te dedico hoje este soneto (composto pela sensibilidade poética do amigo Fernando Caldas):

CHICO XAVIER

Ajoelhada ante a lousa fria
Triste mãe chora a dor da despedida
E entrega, fervorosa, seu filho a Maria,
O coração sangrando e a alma ferida.

Aguarda, esperançosa, um novo abraço
Retendo consigo a alma tão querida,
Desejando ter de novo em seu regaço
Aquele que foi a vida de sua vida.


Mas eis que do além a voz ressoa
Pelo mais singelo médium, em seu mistér,
Por cujas mãos a esperança entoa

A canção que transforma o homem velho.
Bem aventurado és, Chico Xavier
Por seres carta viva do Evangelho.

Nenhum comentário: