quinta-feira, 25 de março de 2010

O amor feminino na construção da vida

(foto: Yvette Moura) *

No livro Ave Luz, o espírito Shaolim conta, através da psicografia de João Nunes Maia, que, certa noite, o apóstolo João pede a Jesus para falar sobre o amor. “O amor é o único nome que pode substituir Deus. Ele sustenta a vida em todos os seus ângulos. Sem amor, desaparece a própria vida” – afirma o Cristo.

- Nós não podemos perder tempo no aprendizado do amor. Tudo em que nos esforçarmos para a concretização do bem é algo de amor projetado no próximo. E, se nasceu dentro de nós, ilumina-nos primeiro. O amor dá vida na vida de Deus.

E o Mestre conclui falando sobre a sua própria experiência com o amor: - O amor que eu tenho a todas as criaturas é o amor de Deus que passa por mim, por achar sintonia em meu coração.

Desde aquela época Jesus vem conclamando os homens a criarem sintonia em seu coração para melhor recepcionar o amor de Deus: - “Quem quiser me seguir, pegue a sua cruz e siga-me!”. Convida, colocando-se como “caminho, verdade e vida”, através de quem se chegará à plenitude.

E muitas mulheres, mais dóceis aos apelos do Amor Maior, têm carregado as suas cruzes pessoais e coletivas, inerentes à condição feminina, com resignação e heroísmo por amor ao Cristo. Por conta disso, muitos atribuem a submissão e a vulnerabilidade da mulher ao Cristianismo.

A atriz e educadora fluminense Alcione Peixoto descobriu, no entanto, nas suas incursões pelos textos sagrados, que o principal responsável por essa realidade, ainda tão forte em algumas sociedades, não foi Jesus de Nazaré, mas o Judaísmo. Para a sociedade judaica, a mulher tinha pouco ou nenhum valor. Sua condição social chegava a ser inferior à dos escravos, cabendo a ela as tarefas mais humilhantes, e sendo-lhe negado o direito aos estudos e ao conhecimento das leis. A mulher era um objeto de cama e mesa, que passava do julgo paterno para o do marido.

Segundo a autora de A Mulher no Evangelho, Jesus foi o primeiro e maior feminista de todos os tempos, tendo destacado a mulher em várias oportunidades e lhe colocado sempre em condições de igualdade com os homens, moral e intelectualmente.

Quando foi recebido em Betânia, por exemplo, ao ouvir as reclamações da irmã mais velha de Maria – que se encontrava aos pés do amigo da família, bebendo cada palavra que saia da sua boca –, Jesus redarguiu com uma carinhosa advertência: - “Marta, Marta. Maria escolheu a melhor parte”. Em nenhum instante recriminou a irmã caçula de Lázaro por estar participando de uma atividade eminentemente masculina, mas enalteceu a sua escolha.

Noutro momento, ao conversar com a samaritana, à beira do poço, Jesus escolhe uma representante do sexo feminino para mensageira da sua Boa Nova dentro daquela comunidade, que era tão marginalizada.

Em outra passagem, o Mestre recebe a pecadora de Magdala como se já a esperasse. Ao ser questionado por ser tão receptivo com uma mulher de “má vida”, Jesus faz deferência àquela que lavou os seus pés com óleos finos e os enxugou com os próprios cabelos, enquanto que o seu anfitrião sequer lhe oferecera água para lavar as mãos.

Foi no cadinho doméstico que a mulher desenvolveu qualidades como a intuição e a inteligência emocional – hoje tão valorizadas no mercado de trabalho. Assim foi com Joana, Madalena, a mulher adultera, entre tantas outras, e com a própria mãe de Jesus – a quem Ele elevou à condição de “mãe da humanidade”, quando, diante do sofrimento materno, anunciou a futura missão a ser abraçada por ela:

- Mãe, eis aí o teu filho. Filho, eis aí tua mãe.

E é homenageando Maria de Nazaré que eu concluo, hoje, a Série das Marias, publicada este mês em O Jornal. Ela que é o símbolo maior do amor feminino na construção da vida: amor que gera vida da própria vida, aconchega no peito o filho alheio, pratica a ciência da paz e tem o poder de transformar o mundo educando com responsabilidade .

*Márcia e Letícia - duas mulheres de fibra.

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