(foto: Yvette Moura)
O que nos faz olhar para o lado e enxergar no colega, no
vizinho, no cônjuge ou num parente querido a personificação do inimigo?
O que
nos faz desconhecer, de repente, pessoas por quem nutríamos respeito, afeto ou
admiração?
Como é que se destrói, sem que a gente se dê conta disso, uma
relação que até então parecia estável?
Perguntas como essas deveriam ser feitas periodicamente por
cada indivíduo, num solilóquio d’alma, para que analisasse a quantas anda as
suas relações interpessoais.
Não para contabilizar os que se foram e os que
acabaram de ingressar em seu seleto círculo de amizades, pura e simplesmente.
Mas para avaliar a forma como tem se conduzido nessas relações.
É muito comum exigirmos do outro um comportamento primoroso
e a aceitação total do nosso modo de ser.
Com maior freqüência, no entanto, nós
nos esquecemos de avaliar se estamos sendo para o outro o amigo sincero, leal e
atencioso que gostaríamos de ter. Na maioria das vezes, vamos descobrir que
não...
Esquecemos que respeito, ética, gentileza e espírito de
cooperação são lições que devem começar em casa, sem interesses escusos.
E a
“prática da boa vizinhança” deve ser uma constante até que passe de exercício a
hábito, que nos denuncia onde quer que nos encontremos.
Amar os que nos amam, que mérito há nisso? Já questionava
Jesus. Fazer o bem aos que nos querem bem, até os maus fazem...
Grande mesmo é
respeitar as diferenças e construir laços de afeto com quem nos olha de lado. É
ter a coragem de ultrapassar os limites das nossas “patotas” e dar o melhor de
nós para estabelecer relações interpessoais mais saudáveis.
Amar o próximo e aceitar as pessoas como elas são não é uma
tarefa que se realize do dia para a noite. É obra de contínua e perseverante construção,
sempre calcada em objetivos elevados.
Inúmeros já lograram transformar inimigos
em aliados. E se foi possível para eles, também o será para nós. Vamos tentar?
Mas é preciso despir-se dos preconceitos (permita-se
conhecer antes de “qualificar”!); despojar-se de reservas e amarras (só
consegue dar realmente aquele que se permite receber.); e abrir o coração para facilitar
o “encontro” (nenhuma relação sobrevive na superficialidade...).
Mas, se depois de tudo isso o outro permanece fechado, siga
o seu caminho, cultivando sempre a boa semente. Pois cada um dá o que tem.
Além
do mais, como me ensinou, certa feita, uma interna do Lar Francisco de Assis, todos
temos o direito de fazer as nossas próprias escolhas. E ninguém precisa adoecer
por conta disso.
Diante da recusa da outra, que eu tentara aproximar para
amenizar a solidão da velhice, Maria se voltou inabalável e disse: “Deixe para
lá! Ninguém é obrigado a gostar da gente”.
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