Numa tarde silenciosa, um coração em brasa queima irrequieto
querendo se expressar. Mas em meio a tantos sentimentos, que poderiam preencher
páginas inteiras como esta, tudo silencia e passa, inconstante em si mesmo.
Sobre
o que falar?
Ah, a vulnerabilidade natural das coisas nesse mundo de formas
e sombras! O desencanto, as frustrações, as inseguranças várias que nos
inquietam e ameaçam o bem-estar...
Assim como as formas que se desfazem na
matéria moldável da carne, sujeita irremediavelmente à ação do tempo. Pelas
experiências, nas intercorrências do viver em si... Ai, de mim.
E quem passa pelo mundo com os olhos no passado, lembrando a
saia comprida das moças, que varriam o chão batido do passeio, e o cumprimento
sedutor dos rapazes, com um menear da cabeça e olhos compridos? Ai, ai...
E quem corre contra o tempo com os olhos fixos no futuro,
atropelando os dias, vivendo pela metade, se impondo a sacrifícios
desnecessários para construir o seu castelo dourado sobre as bases insólitas de
um tempo que pode nem chegar? Ai, de mim...
Que não construo porteiras entre ricos e pobres, brancos e
índios, loucos e lúcidos, simplicidade e beleza. Eu que insisto em salvaguardar
a alma dos caprichos da matéria, transpirando distâncias, embora conserve o hábito
das portas abertas. Ah...
Onde a segurança de passar pela Terra e chegar ao fim desse
caminho sem nenhum arranhão?
Onde a certeza sobre o que quer que seja, quando o
rumo das coisas nem sempre está subordinado ao nosso controle?
Onde a paz de
espírito que veste as cabeças pintadas em neve de certos anciãos?
Onde o
estreito canal que une sentimento e razão?
Onde o instante definitivo que estabelece
o amor em detrimento da dor?
É preciso conduzir a vida com mais leveza e alegria. Sem
tantas exigências sociais e práticas exteriores. Mas com entusiasmo,
consciência e compromisso.
Os dias devem ser encarados como o que realmente são: breves
intervalos de tempo, sequenciados, com tarefas a cumprir, problemas a resolver
e alguns desafios a enfrentar. Vencido um ciclo, outro começa, e logo outro
mais adiante virá.
E assim a vida segue sem muita alteração.
O ideal é não acumular trabalho. Tarefas, problemas, desejos
e questionamentos vãos pesam, angustiam e roubam a alegria de viver.
Periodicamente,
é recomendável que se faça uma faxina mental: ver o que foi quebrado, e se pode
colar; botar fora o que está estragado; discernir sobre o que cabe ou já não nos
cabe mais; analisar o que está sobrando em nossa vida.
Por singelo que pareça, esse
balanço irá fazer toda diferença no resultado final.
Ao fim de cada ciclo a vida segue em frente, e nós trilharemos
mais leves o caminho e os percalços que lhe são inerentes.
Mas tem que ser periódico, como se fora previamente programado
ou quando algo relevante nos aconteça e abale as estruturas. Até fazer parte da
nossa rotina, como se banhar e dormir.
A ideia é fazer disso um hábito, como a boa alimentação e o condicionamento físico. Afinal, condicionar a alma ao autoconhecimento, e à reforma íntima, é o melhor investimento para a economia espiritual.
A ideia é fazer disso um hábito, como a boa alimentação e o condicionamento físico. Afinal, condicionar a alma ao autoconhecimento, e à reforma íntima, é o melhor investimento para a economia espiritual.
2 comentários:
Belíssimo esse texto, essa alto-análise nos permite tirar mazelas e melhorar sentimentos, assim, chegaremos no final do dia ou da vida bem melhor do que começamos.
O tempo, como o fiel da balança de DEUS, nos exige o constante fazer contas. Mister estar atentos para não confundirmos o fazer contas com o fazer de contas. Beijos Yvettisima. Vc como sempre a poetisa da prosa.
Fernando Caldas
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