Um abraço.
(foto: Yvette Moura)
Anotações
Anoto a vida.
Não sei se é poesia, o que faço
Não sei se é poesia, o que faço
Se é o puro mormaço
Das ruas do Recife
Das ruas do passado.
Anoto o que dizem
O que me cala
Anoto o dízimo do dia
O olhar opaco
De quem vai porque vai
De quem não tem porque ir.
Anoto essa mão estendida
À espera de tudo
Essa boca que se desespera
E lambe o escuro.
Anoto minhas roupas penduradas
Num varal de 1976
(era noite clara e podia vê-lo
pelo barulho do vento).
Anoto a vida.
Não sei se é poesia, o que faço
Se é puro cansaço.
Anoto o que me escondem
O que sequer nasceu
Mas tem sobrenome.
Anoto o que disseram ser meu.
Um dia
Deixarei um silêncio
Sem ponto final.
Um silêncio meu
O último
E a busca da poesia
Terá terminado.
Samarone Lima.
2 comentários:
Não há fastio para quem tem o seu talento. Sua inteligência, sensibilidade e olhar estão acima de tudo. Escreva, escreva, escreva. Precisamos do seu olhar...
Cláudia Galvão
Ansiosa pra que esse fastio vá embora e eu possa ler suas belas palavras, mainha! Mas tudo tem seu tempo! Fica em paz
(saudades)
Elayne Pontual.
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