sábado, 6 de janeiro de 2007

Do 4° andar

Hoje é dia de ir à praia. Dia de sorrir largo feito céu aberto. De sacudir preguiça pra tudo que é lado e ficar assim, oh, braços abertos voltados para o céu, quarando a alma ao sol.

Mas se me perguntam por que eu não estou lá, numa dessas praias lindas do litoral alagoano, então vou dizer que é por que alguém tem que ficar do lado de cá, entre a terra e o paraíso. Para ir dando os sinais e abrindo as porteiras da vida para quem se aproxima.

Hoje acordei preguiçosa, tateando a casa com o canto da vista, travando conversas telepáticas, intermináveis, com as plantas do meu jardim – meu jardim suspenso do 4° andar.

Foi porque precisava limpar a casa, arrumar as coisas, botar ordem em tudo o que é meu que eu olhei pra fora da janela e achei que era dia de tomar banho de sol. De encostar bem de leve a planta dos pés na areia da praia e sair deslizando, como se volitasse em plena terra firme – terra/paraíso.

“O paraíso é aqui!” Pensei. E esse marzão azul é uma visão palpável do universo inteiro, repleto de eternidades para a gente mergulhar...

Então vai a praia tu, que estás aí lendo essas bobagens que eu escrevo do lado de cá. Não espera por mim, não! Por que, hoje, o único mar que me aguarda é um mar de louça, roupa suja e toda sorte de tarefas domésticas, e essas outras tantas coisas que encerram um lar, e que os machistas de plantão juram de pés juntos que é coisa de mulher.

O apoio que posso te dar hoje, é unicamente moral. Nada de vida mansa, de descanso merecido, de massagem relaxante feita pelas águas mornas do mar de Alagoas. Nada de um bronzeado tropical. O meu bronze vai continuar sendo mesmo aquele de hospital ou, como diz um amigo meu, de quem passa os dias vendo o sol nascer num tabuleiro de xadrez.

Para mim, nada! O máximo que posso fazer é te abrir a janela dos olhos e te mandar pro mundo, dizendo como se falasse pela boca de um anjo: Vai, meu filho, vai caminhar pelas margens, andar pelo arvoredo, vencer as profundezas das lagoas, colecionar ondas do mar e palmilhar cada pedaço de chão que passar sob os teus pés. Que a vida fica bem melhor assim do que se fosse planejada.

Vai! Aproveita as ondas grandes para mergulhar. Nas marolas, aproveita pra pular corda no mar e ensaiar teus saltos para outros estágios e desafios que a vida certamente vai te apresentar. Vai!


E por hora me deixa aqui, ruminando as palavras que eu disse e as coisas que já vivi. Reavendo de volta à mente o alimento que cada experiência me tenha deixado e eu ainda não percebi.

Hoje o que eu quero mesmo é curtir essa preguiça doida que me acordou bem cedo e me fez pular da cama para olhá-la de frente e saber que ainda podia dormir um pouco mais. Mas isso é coisa que se faça? Igual a minha filha Maya que, outro dia, me vendo entregue aos braços sedutores de Morfeu, cutucou-me com o dedo curto, como se cutucasse uma onça, e atirou-me na cara a pergunta mais cruel que eu já ouvi: “Mãe, você ta dormindo?”

Portanto, fica decretado aqui que hoje é dia de praia, sim! Mas eu, só de protesto, por não poder quarar ao sol igual aos outros, vou voltar para a cama e me entregar mais um pouquinho ao Deus do Sono. Vou olhar os afazeres domésticos e dizer com prazer a todos eles: Espera mais cinco minutos, que eu ainda vou dormir!


@para Mayra, que não resistiu ao convite do sol...

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