Uma senhora entoa sua cantilena triste, como se cantasse para ninguém:
"A minha vida
eu entreguei
ao meu Senhor Jesus,
meu Senhor Jesus..."
E as palmeiras farfalham lentas, como os brasões das cidades representadas no Largo das Bandeiras. E as pessoas que passam, seguem na mesma cadência, sob o sol abafado das doze e meia.
Em seu silêncio, cada uma entoa o seu canto triste...
Adiante, crianças devoram o alimento coletivo com a mesma rapidez que os pássaros escuros se aglomeram ao redor de sí. Com a mesma avidez que o bebê recém nascido suga o peito ressequido da mãe. Ela, uma mulher-adolescente que come ligeira a comida compartilhada pelos demais.
A um canto, outra filha da rua faz a cesta numa rede improvisada, à guisa de varanda. O cheiro é forte. A cena também. O mundo gira, dando voltas e voltas na boca do estômago (por força da droga e da fome).
Nessa roda-vida, cada um alivia a seu modo o mal de cada dia...
@ texto extraído da série "No meio da praça".
Nenhum comentário:
Postar um comentário