segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O dom de ser poesia

Ainda em clima de comemoração da vida, apesar de seus altos e baixos, dou-me o direito de ser conhecida. Visitada pelos olhos de quem me decifra as palavras. Sem muitos pudores, me exponho como moçoila à janela. Falo do que me vem por dentro. Do que penso e do que me interessa de verdade.

Falo dos anseios que trago nessa trajetória de vida. Dos compromissos que assumi também. Dos valores que aprendi a cultivar e de tudo o mais que foi despertando em mim, através dos anos. Contudo, me explico: não sou diferente de ninguém. Nem pior, nem mais especial. Sou apenas uma mulher que, a exemplo de tantas outras, não aceitou passar despercebida. Por isso eu falo!

Escrevo coisas todos os dias. Registro estórias. Traduzo sentimentos. Conto experiências que vivi. E faço uma releitura da vida a cada novo instante. Mesmo em silêncio, dito minhas palavras. Não me interessam as notícias nem os eventos puramente sociais. Já tem muita gente se ocupando dessa tarefa, e eu valorizo sua prática, mas a minha (pre)ocupação é outra.

Gosto de escrever sobre as coisas da vida. Dos seres. Da natureza. Do extra-sensorial. Gosto de desvendar a beleza escondida em cada coisa. Cada pessoa. Cada situação nova que surge. Gosto do sentimento que cada palavra encerra. É a poesia e as suas possibilidades que me atraem. A esperança é o sentimento que me salva. E eu acredito no homem do futuro – humano e espiritualizado. É para lá que me dirijo.

A exemplo de Manoel de Barros, “dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes”.


Gosto de descobrir a riqueza que há no mais humilde dos homens e do universo que esconde o mais simplório dos seres. Gosto de escavar tesouros onde nem se imagina encontrá-los. Gosto da gema que se esconde sob as várias camadas do cascalho. Porque assim somos todos nós – minerais brutos necessitando lapidação.

A beleza exterior, para mim, é óbvia demais. E às vezes esconde profundas deformidades. O óbvio me cansa! E deixa preguiçosa a minha mente arguta, curiosa e irrequieta demais. Nunca me interessei muito por pessoas cuja beleza estivesse dentro dos padrões da estética convencional. Exposta na cara, como se diz. Sempre exigi mais de meus olhos. Sempre exigi mais de minha inteligência.

Busco a beleza da alma como quem se entrega a uma aventura inevitável.


Viver, nunca foi um ato casual. Antes, a causalidade de todas as minhas ações. E também seu fim. Por causa disso, sei que sou simplória demais para alguns. Desinteressante, talvez. Para outros, sou de uma beleza indescritível. Mas nada disso tem importância: sou apenas uma criatura em busca de seu próprio “destino”. Nada mais.

No percurso da vida, procuro colher o que há de melhor em tudo. Tudo que realmente contribua para alcançar o meu desiderato. Por isso, também me faço ponte para muita gente. Mas sou seletiva. Intolerante com os desperdícios e as fantasias que alguns elegem para si. Não perco mais tempo com ilusões ou com pessoas que não querem caminhar. Construo no concreto o meu jardim. E sei muito bem o que é isso! Estou no caminho de uma longa viagem. Sendo preparada a todo instante para as perdas e as despedidas. Pratico o desapego, então. Eu não sou daqui!

Se a dor me bate à porta, já não reclamo nem choro demasiado. Apenas calo, quando me sinto cansada. O que é apenas uma pausa para o que irei escrever logo em seguida, no livro da existência.
Ademais, não busco a imortalidade dos mortais. Busco o dom de ser poesia, como Manoel de Barros. Como os andarilhos, as crianças e os passarinhos.

Um comentário:

Marcos Rodrigues disse...

Yvette, o meu e-mail é marcosjornalista@yahoo.com.br
se puder ajudar...será um prazer! Aguarde contato!