Não me angustiam muito as mudanças que vão acontecendo à estrutura física (não conseguiremos reter o tempo mesmo!), pois sempre encontro uma beleza nova para cultivar. De preferência, algo que possa levar comigo aonde a vida me conduzir. Quando não, busco os sinais externos mesmo: uma expressão nova, um novo jeito de olhar, um corte nos cabelos, uma nova cicatriz...
E sigo achando graça na vida, mesmo quando a vida acha pouca graça em mim.
Certa vez, estacionava a bicicleta em frente a uma farmácia da Ponta Verde, quando raspei a coxa em um parafuso sobressalente. Olhei a perna direita e vi o filete de sangue escorrendo, um pouco acima do joelho. Pela profundidade do corte, percebi logo que me deixaria cicatriz. Confesso que o ardor do raspão incomodava menos que a possibilidade de uma indesejada marca. Não deu outra! Sarado o corte, a marca branca ficou ali, como uma vírgula tatuada na pele em bronze. Como não tinha mais o que fazer, procurei travar um contato mais íntimo com a intrusa. Olhei-a sob vários ângulos até achar que tinha ficado mais charmosa com a cicatriz.
Eu, que não cultivo tatuagens, costumo achar bonitas as marcas que são deixadas pelo ato de viver intensamente cada momento da existência.
Às vezes, em tom de brincadeira, digo às minhas filhas: “Se um dia vocês precisarem fazer o reconhecimento do meu corpo, tem essa marca aqui, ó!” e saio mostrando os sinais do tempo, que tanto me orgulham: a vírgula na perna; o coração que me ficou da catapora, na mão direita; o símbolo do infinito, de uma queimadura na mão esquerda; uma dupla de sinais, como se fossem lágrimas, ao canto de um olho... E por aí vai.
Seja como for, as marcas do tempo têm sua importância particular. Cada uma conta uma passagem da nossa vida, encerra uma estória e (por que não?) um aprendizado. Depois do calvário, Jesus era reconhecido pelas marcas que ficaram nos pés e nas mãos. Ainda hoje elas são referência para os cristãos – uma prova da vitória do homem sobre o mundo. Por que apagar as nossas marcas, então? Por que disfarçar o tempo que levaram para serem desenhadas onde estão?
Hoje, ao completar idade nova, inicio o fechamento de mais um ciclo. Se olhar para trás, vejo que tenho mais a agradecer do que a lamentar. Isso mesmo! Entre perdas e ganhos, o saldo é positivo. Encontrei muita gente interessante, fiz amigos verdadeiros, conquistei espaços e realizei coisas boas de lembrar. Ao longo desse tempo, tomei decisões importantes e vivi experiências marcantes.
Do bem e do mal que foi experimentado, lucrei a maturidade.
Estou vivendo o meu melhor momento! Encaro a vida com mais ternura e simplicidade. Ocupo-me mais em corrigir as deformidades do espírito do que em julgar o comportamento alheio. Estou mais livre e flexível assim.
Mesmo amadurecida, não perdi o deslumbramento de uma criança ao olhar o mundo pela primeira vez. Enxergo tudo com mais clareza (tudo é mais bonito!).
Em minha vida, tudo é um maravilhoso presente de Deus. Até os remédios morais são dádivas.
Se em algumas vezes me pesa a passagem por este planeta-escola, em outras, sinto-me cheia de vigor. Viver é um presente divino e eu quero estar de olhos bem abertos ao passar pelo mundo. Quando partir, como diria Noel Rosa, “não quero choro nem vela, quero uma fita amarela...”, onde esteja gravada a senha da felicidade, que eu aprendi por aqui: amor.
@ para meus pais e para Deus, em agradecimento pelo dom da vida.
Um comentário:
EMatiaz... enviou 16/1/2007 13:19:
Parabéns é comum demais pra alguém tão incomum... eu diria: que sorte do mundo que num dia como o de hoje você o viu pela primeira vez e se permitiu ser vista!!
Agradeço a Deus por ser hoje um dia especial, não apenas pra você, mas principalmente pra quem compartilha tua vida, porque podemos dizer que a bondade dEle é tamanha que nos presenteou com uma borboleta tão linda a transformar nossas vidas em jardim!
Feliz Aniversário, borboleta!
Um beijo beeeeeeeem doce, de bolo com velinhas de assoprar e tudo! Ah! e brigadeiro também, senão não é aniversário!!!!
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