terça-feira, 5 de junho de 2007

À caminho de um ideal

Como se diz, o trabalho dignifica o homem (de quem é mesmo esta frase?). Mas tem sido cada vez mais freqüente o diagnóstico médico que aponta a excessiva carga de compromissos do homem moderno – gerada pelas exigências do mercado de trabalho, cada vez mais competitivo –, como um dos principais fatores que geram as doenças consideradas como os males do momento: o estresse e a depressão.

Assomado ao consumismo excessivo, à inversão de valores, que supervaloriza o Ter à despensa do Ser, além de outros conflitos existenciais próprios da sociedade contemporânea – que têm gerado um leque enorme de síndromes –, alguns teóricos já estão definindo esta, como a Era da Ansiedade.

O sofrimento por antecipação tem atormentado a maioria das criaturas.

Vive-se no futuro, em um movimento angustiante que leva as pessoas a correrem constantemente atrás de algo que lhes falta; como se estivessem sempre atrasados para seja lá o quê que tanto procuram. Mas há também os que permanecem presos ao passado...

Dentro dos meus parcos conhecimentos, penso que não é a busca incessante que está errada, mas a forma como ela está sendo desenvolvida: de forma atropelada, pulando as etapas naturais; desejando-se chegar ao futuro antes mesmo de viver o presente.

E quando se vive o presente, isso é feito de forma desequilibrada, como se fosse o único e o último instante da existência. E se o presente não parecer bom o suficiente, e o futuro for incerto demais, fica-se deprimido, achando que o melhor ficou lá atrás.

Tudo isso me faz lembrar uma estória singela que eu ouvi certa feita: conta-se que um homem voluntarioso, conversando com o Criador após desencarnar, falava da perfeição divina disposta em todo o Universo e Lhe agradecia pela enorme generosidade para com os seres da terra.
- Só há uma coisa que eu não sei para que serve na Sua criação. Afirmou o homem, em tom de crítica.
- Sobre o que falas, meu filho? Questionou o Pai da Vida, muito paciente.
- Sobre o horizonte.
Com um meio sorriso, Deus adula o ansioso, como se falasse a uma criança: “Para que achas que serve o horizonte, meu filho?”
- Não vejo sentido nele! Insistiu o homem, cheio de direito.
- Todas as vezes que eu diviso com os olhos aquela linha que separa a terra do céu, sinto vontade de chegar lá. Então caminho, caminho, e nada! Quando olho novamente, ela continua distante.
Sorrindo levemente com os olhos, o Senhor mira o filho de forma complacente e explica ainda mais carinhoso: “Mas, é para isso que serve o horizonte, meu filho! Para que tu caminhes”.

Parece-nos, então, que o homem moderno carece mesmo é de sonhos: individuais e coletivos. Sonhos que ocupem o seu tempo e a ociosidade a que relega sua mente. Sonhos que o façam caminhar sem pressa, mas com firmeza e esperança no futuro. Sonhos que lhe preencham a alma e lhe tragam aspirações. Sonhos que o tornem maior do que o seu tamanho real, a exemplo de Madre Tereza de Calcutá, Ghandi, Chaplin...

“Eu tenho um sonho!” bradou Martin Luther King, o grande líder negro. E o seu sonho fortaleceu o sonho coletivo de um povo oprimido e discriminado na grande nação norte americana. E fez com que cada um acreditasse no seu sonho pessoal...

O preconceito racial ainda existe, é verdade. Declarado e de forma velada. Lá e por todas as partes do mundo. De uma ou de outra forma. Contra os negros ou contra outras raças... Mas muitas conquistas foram feitas inspiradas nesse sonho. E muitas pessoas continuam com ele, estampando a paisagem do seu horizonte, como eu.

Aliás, eu também tenho um sonho. E também estou caminhando em direção a ele. Mas isso é tema para uma outra crônica...

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