terça-feira, 24 de julho de 2007

Pérolas desconhecidas

Quem acompanha as minhas crônicas deve se lembrar da história que contei aqui na primeira semana de 2007, no dia 9 de janeiro, sobre a moça grávida de gêmeos que estava apavorada com a idéia de morrer de parto. Eu falava de Zefa Jandira, uma mulher que conheci na casa de minha irmã Thereza, no final de dezembro de 2005, em São Benedito do Sul, no interior de Pernambuco.

As pessoas me perguntavam sempre sobre ela e os gêmeos, que, à época da publicação, já haviam nascido fortes e saudáveis. Pois bem! Como boa contadora de estórias, eu não gosto de deixar nenhum relato pela metade, portanto, devo dizer-lhes que reencontrei Zefa Jandira nas minhas últimas férias, mês passado.
Para vosso espanto, porque também aconteceu comigo, digo de cara que nossa amiga, agora com 41 anos de idade, já está grávida de novo; e de gêmeas! Somando aos da barriga, já são oito filhos; sendo que um morreu; a mais velha mora com o pai; duas vivem com a avó materna; e os gêmeos estão sendo criados por ela e o companheiro.

Apesar de aumentarem a família, as gêmeas já estão trazendo boas influências para os pais, pois o esposo arrumou um emprego e agora estão todos morando na cidade de Cupira, há poucos quilômetros da terra natal. Bem mais segura do que na gestação anterior, a mulher encontrou uma excelente casa com varanda e quintal por uma bagatela e também já conseguiu doações de fogão, camas e um sofá grande para a sala.

Conversadeira e desenrolada, Zefa é a típica brasileira: não desiste nunca! Diz que não tem vergonha de pedir e, por isso, não passa necessidade.

Quando a encontrei, embaixo de uma chuva danada, ela estava com duas filhas e uma sacola cheia de roupas e lanche para as meninas (que depositou em meu colo enquanto procurava o telefone da Assistência Social de Cupira, que agora é o seu novo contato para os amigos são-beneditenses).

Zefa fez a mesma festa de sempre ao me avistar e eu posso dizer que a alegria que senti ao vê-la foi na mesma intensidade. Minha amiga tinha chegado no dia anterior para resolver os últimos detalhes de sua casa (a poucos metros da de Thereza), que estava alugando. Perguntei sobre os gêmeos, Jaílson e Jadson, e ela aproveitou para me contar as novidades.

Segundo Thereza, um é loiro (puxou ao pai) e tem dois olhos perdidos no meio da face “de tão pequenos”; o outro, moreno, tem olhos grandes e esbugalhados. Um é o preferido da mãe e o outro o do pai.

Minha irmã me contou que há poucos meses o casal brigou e Zefinha veio embora com o moreno, deixando o loiro com o pai. Por pouco tempo! Porque, separados, um menino olhava para a foto do outro e começava a chorar com saudade do irmão. Penalizados, os pais trataram logo de acabar com aquela pendenga: para alegria da garotada.

Relembrando Zefa Jandira e a imensa garra e alegria que ela carrega consigo, é que me dou conta de como é bela a alma do povo brasileiro que, apesar dos problemas sociais que enfrenta, nunca se deixa abater. Pelo contrário! Quando as intempéries da vida ameaçam lhe roubar a alegria, ela renasce das cinzas sempre com bom humor e criatividade.

Como me ensinou recentemente a adorável senhora que eu conheci na recepção de um consultório médico. Aos 85 anos, com nove filhos, quarenta e oito netos e dezesseis bisnetos, alegre e falante, D. Elza Tojal declarou, com a autoridade de quem sabe bem o que diz: - Eu não tenho queixas da vida! A felicidade é a gente quem faz. E arrematou com entusiasmo: - Viver é uma maravilha!

E, sem qualquer constrangimento, anunciou a chegada de mais uma primavera (no último domingo, 22) – em que a família estaria toda reunida em torno de si –, segredando num largo sorriso: “Eles acham que eu sou a pérola desconhecida!”
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@para Zefa Jandira e D. Elza Tojal (como presente de aniversário),
que sabem sorrir largo e não têm medo
nem preguiça de ser feliz.

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