terça-feira, 14 de agosto de 2007

Ao primeiro amor...

Em um dia tão bonito como este, eu queria pegar a tua mão e te conduzir estrada afora, coração aos saltos, numa caminhada alegre e fresca pelo verde sem fim das terras em que viveste os teus melhores anos.

Pássaros cantando por todos os lados – pequena sinfonia de tempos idos –, o som da água corrente indicando a direção, e o sol – fonte de energia – a iluminar a alma e encher o coração de alegria e paz.

Quando cansassem os nossos pés e o suor gotejasse em nossa face, eu te convidaria, amigo meu, para um breve descanso sob frondosa árvore (quem sabe um Ipê amarelo!), sentindo o frescor da brisa a aliviar o cansaço da estrada.

Tu me disseste um dia (lembra?) que estavas muito cansado. E eu não alcancei o que revelava aquele pequeno desabafo. Trazias o semblante triste e sofrido pela colheita farta, mas profundamente dolorosa, que estavas tendo. Tudo por conta dos dias imprevidentes do plantio passado, em que semeavas a vida com as sementes do prazer e da ilusão.

Hoje eu te compreendo, meu velho, e rogo a Deus por ti, que te voltaste para o mundo muito mais que para a família: o ponto de partida e, conseqüentemente, também o de retorno.

Neste breve encontro, querido, queria te falar de amor, mesmo que em silêncio, te olhando nos olhos e ouvindo a tua respiração ofegante, cansada de tanto viver. Queria poder te conduzir com passos firmes, como fiz uma vez, lembra? Seguimos pela trilha de barro escuro, tarde da noite, corpos molhados de orvalho, só para veres a lua cheia refletindo a tua casa na água do açude, como se fosse um desenho infantil pintado em aquarela: o teu último sonho.

Queria te encontrar, meu doce amigo, e ter mais uma noite para compartilhar contigo. Quando te olharia em silêncio e sorriria solto pelo canto dos olhos, agradecida a Deus pela magia do encontro e pela amizade, respeitosa e profunda, que ao final de tudo soubemos construir.

Porque perdemos tanto tempo, amado meu, nos ocupando com outros mais do que conosco; plantando mágoas mais do que o perdão; deixando pesar o silêncio e o distanciamento, ao invés de implantarmos o diálogo e a afetividade em nossa relação.

Hoje eu queria te agradecer (como também ao Grande Pai) por tudo o que nos permitimos compartilhar e o que aprendemos um com o outro. Pelos pequenos gestos, que se transformaram em grandes ações, obrigada! Pela musicalidade do teu ser, tão significativa para mim; pelo amor difícil, quase inatingível, que me ensinou a doar um pouco mais de mim, ao invés de exigir; pelo eterno silêncio, que me ensinou a ver a eloqüência dos gestos, conscientes ou não...

Por tudo isso, meu velho, obrigada!

Nesse passeio a que te convido, e a todos os pais da terra também, eu queria falar do amor imenso que há dentro de mim e da alegria de poder dedicá-lo hoje a ti, assim como a qualquer outro ser que de mim se acerque.

Porque decidi que aonde for o amor estará comigo e será o móvel das minhas ações. Desde os mais ínfimos gestos aos maiores empreendimentos, o amor estará comigo. E já não faz tanta diferença se estas aqui ou além...

Por isso, faz o mesmo, onde quer que te encontres, pai. Conduz a tua vida com a mesma serenidade e devoção ao próximo com que procuro conduzir a minha. Escolhe melhor os caminhos que trilhas de agora em diante; separa bem o joio do trigo; e seleciona, cuidadosamente, as sementes que irás usar em teu novo plantio.

Eu guardo a certeza de que o melhor da vida ainda está por vir. E não vai demorar muito para que esse passeio que agora idealizo venha a se tornar realidade. E então estaremos todos juntos, mais uma vez, pela misericórdia de Deus. Porque o pai é o primeiro amor de uma mulher.

3 comentários:

Yvette Maria Moura. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oi Yvette

Não consegui postar esse comentário no seu blog. Mas como faço questão q veja estou mandando por mail.
Por entre as linhas escritas por você, revi eu e meu pai. Meu herói, companheiro de muitas batalhas, sempre ao meu lado. Senti o friozinho bom daquela distante noite de julho em que juntos assistmos à chegada do homem à Lua.Ele me olhou sorridente e disse:Isto é história!
Realmente ele foi o meu 1º amor. O primeiro homem com quem troquei
olhares cúmplices; o primeiro a dizer que eu estava linda ao me ver arrumada para sair...
Bjos
Marli

Yvette Maria Moura. disse...

querida Marli,

postei o e-mail que me mandaste aqui para que todos pudessem compartilhar das lembranças belas que a minha carta despertou em ti.

pois tuas palavras falam tanto quanto o que escrevi...

e elas comprovam a minha teoria! rss

obrigada pela visita e por teres compartilhado conosco algumas das tuas mais caras reminiscências.

um beijo muito carinhoso.