terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sobre o céu, o inferno e outras verdades fundamentais

Às vezes penso que é assim mesmo a ascensão do ser, que oscila com uma facilidade intrigante entre a terra e o céu até chegar ao Alto. Algumas vezes, também desço às sombras do limbo e acabo descrendo de tudo, até mesmo das verdades fundamentais.

O céu, para mim, é feito de momentos como este em que me sento ao computador e deixo fluírem pensamentos, reflexões, questionamentos vários, e os dedos correm soltos sobre o teclado, como se nunca houvesse existido o antes e o depois. Não tenho a pretensão de ser a detentora da verdade ou de apontar caminhos para quem quer que seja, mas reconheço que, às vezes, mesmo sem querer, acabo sendo, de alguma forma, um indicativo de direção para quem me lê.

Confesso que isso me faz bem (e por que haveria de não fazer?), afinal, saber que minhas palavras ganham asas e chegam a lugares nunca imaginados, iluminando mentes cansadas, acalmando corações doloridos, suscitando idéias novas em gente que eu nem conheço, ou apenas fazendo suspirar aquele leitor mais sensível, é bom demais.

Não há nada mais gostoso do que fazer o que nos dá prazer. Melhor ainda é saber que, de alguma forma, aquilo que fazemos com tanta satisfação vai ser útil ou agradável para alguém. Isto, sim, é gratificante. Dá a sensação de ocupar, de verdade, um lugar no tempo e no espaço. Estar para alguém, entende? Existir de fato.

Às vezes, no entanto, sou tomada por certo desalento, indefinível cansaço existencial que me faz questionar a mim mesma e a validade do meu trabalho – e digo trabalho pelo simples hábito de nomear as atividades, mas há puro prazer e entrega em tudo que faço. Há dias, às vezes semanas inteiras, em que me sinto vazia, como se não tivesse nada a dizer, nada a compartilhar; nada que venha a ter significância para alguém ou ser útil de verdade para os leitores habituais de minhas palavras.

E é ai que me permito à descrença e à fragilidade. Quando me desconecto do que há de divino em mim e na minha passagem. É a desconfiança tola sobre a capacidade criativa e transformadora de que fui dotada. É quando me comporto como se não existisse de fato; como se fosse apenas mais um corpo desgovernado que, sem uma mente que o dirija, simplesmente reproduz o movimento da massa – como os cegos guiados por cegos, da Parábola de Jesus.

Deus nos criou para que tivéssemos vida, e vida em abundância, como afirmava o Grande Mestre. Mas o que temos feito? Como temos utilizado o dom da vida? O que temos dado em troca ao mundo pelo tanto que recebemos do Criador? Como temos tratado o corpo que nos abriga? E quanto aos nossos semelhantes, o que temos feito por eles?

É importante que nos questionemos sempre para não desperdiçarmos as oportunidades. E quando digo isso, é para mim também que falo. Porque aquele que profere uma palavra é sempre o primeiro a escutá-la. Então tudo que escrevo é para que acreditemos mais no poder criador que nos cerca, como a todos os filhos de Deus. Para renovar nossas forças e a confiança em nós mesmos. Para não esquecermos jamais que nunca estamos sós e que a ajuda sempre nos virá do Alto, se assim procurarmos.

Porque enquanto oscilarmos entre o inferno e o Céu (se os entendermos como estados de espírito), vamos caminhar por longo tempo ainda dando um passo adiante e dois para trás. Até que despertemos para o tempo perdido em que nos fixamos mais nas coisas ruins do que nas boas: nas imagens negativas do que nas belezas naturais; naqueles que nos deixaram do que nos que caminham ao nosso lado; nas fraquezas que trazemos na alma do que na força extraordinária que há dentro de nós; nas sombras infindáveis das nossas angústias do que na luminosidade da prática do Bem; no inferno das grandes cidades do que no céu que há em cada um de nós...

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