domingo, 21 de outubro de 2007

Na contra-mão

Pensou que era de amor ainda o sorriso frio da mãe, que, olhos no horizonte, não vislumbrava o futuro doloroso que construía para ambos com aquele ato. Tentou sorrir ainda, disfarçando a dor imensa e, num último impulso, abraçou o vazio com seus bracinhos frágeis, que num gesto débil, mas desesperado, pediam socorro...
Tudo se desvaneceu, de repente, em rubros filetes de sangue. A vida e os sonhos futuros de um pequeno ser que há muito se preparava para abraçar a mãe. Também se foram, de uma vez por todas, aquele problema incômodo e o enorme peso de um filho indesejado.
Tudo se apagou em movimentos circulares, descarga abaixo, com um único gesto impensado. Mas nunca se apagaram a mágoa imensa e a dor profunda e solitária, que viria depois, de não mais poder ser mãe.

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