quinta-feira, 6 de março de 2008

Às portas do outono...

Intangíveis sãos os sonhos, os sentimentos e as emoções,
assim como a liberdade, o amor e a saudade...



De novo a folha em branco deitada à minha frente, convidativa feito o horizonte ao alvorecer... O que posso te dizer, amigo, numa hora dessas? Tu, que aí te encontras à espera de algo novo; ansioso por palavras que te norteiem o caminho, que te apontem soluções ou te encorajem os passos para novos rumos. O que tenho a dizer-te?

Sobre o que podemos discorrer nesta manhã cujo calor prenuncia o outono? O que te inquieta mais do que as preocupações naturais deste dia? Já não te bastam os males que ele traz consigo, ou o bem que te oferece, mesmo que em silêncio? O que desejas mais, além do que já possuis?

A vida te parece curta, não é? E isto te angustia mais do que o que deveria. Em dado instante, paras e pensas sobre o que poderia ter acontecido se tivesses feito outras escolhas. Mas já não há mais tempo... Isto te deixa aflito, amargo, inseguro. Não podes recomeçar nem fazer perdurar aquilo que te parece bom, pois tudo passa. Tudo muda de um momento para o outro.

Não existe precisão na experiência da Terra, apenas a tua vontade firme sobre determinados pontos é capaz de trazer alguma segurança para este solo de areia movediça...

O que posso te dizer, então? Como consolar-te ou te fazer compreender que a jornada mal começou? Que estamos ensaiando ainda os primeiros passos e temos uma longa estrada à nossa frente? Ficar parado não vai resolver. Querer acabar tudo de uma só vez, muito menos. Desistir, jamais! Porque seremos impelidos a avançar, de uma forma ou de outra.

Mas, para onde estamos indo? Poderias questionar. E eu apenas deitaria olhos compassivos sobre a tua aflição e te convidaria para seguirmos juntos, trocando idéias e sorrisos enquanto caminhássemos. Talvez não te trouxesse respostas, mas a jornada ficaria mais fácil, com certeza.

Não te parece melhor seguir acompanhado? Para que se isolar, então? Também não vai resolver...

Em nosso socorro, nos diz Joanna – a doutora em Psicologia Profunda: somos pessoas do ‘vir a ser’. Criaturas em processo contínuo de transformação numa escalada evolutiva sem fim. O que somos agora não é o nosso definitivo: estamos a caminho. É como se subíssemos lentamente uma escadaria que se perde nas nuvens.

De onde vem? Para onde vai?

Na experiência da Terra, no momento em que nos encontramos, neste exato instante, és o somatório de tudo o que viveste e aprendeste até aqui, irmão. Tem paciência contigo! Tem paciência com o teu companheiro também! Afinal, somos todos viandantes de uma mesma trilha que começou lá atrás, onde o tempo não guardou registro, e segue, sem pressa, rumo ao desconhecido. À medida que avanças, tudo vai se tornando mais claro e mais compreensível; tudo vai ganhando um sentido.

Ao longo da História, algumas filosofias foram acendendo lumes diante da perplexidade da turba malta, a fim de que a humanidade não caminhasse tão às cegas. Outras, apenas contribuíram para mais ignorância e desequilíbrio. Vez por outra, avatares descem à Terra, convidando a humanidade a apressar o passo. Mas ainda são poucos os que caminham de olhos abertos.

Poucos compreendem que aqui é uma grande escola, um educandário abençoado para os que conseguem chegar...

E a vaidade fútil, o culto excessivo ao corpo, as paixões desenfreadas, a possessividade, o egoísmo, o sexo desregrado, a melancolia crônica, a violência, são alguns dos tantos males que nos distanciam do real objetivo, como os atrativos tolos e os desvios de conduta que nos fazem gazear a aula e perder o ano.

O que posso te dizer, amigo, sob este bafejo quente que vai fechando o verão? Como te ajudar a crer no que te parece incompreensível? Intangíveis sãos os sonhos, os sentimentos e as emoções, assim como a liberdade, o amor e a saudade, no entanto, tudo isso existe e faz parte da tua vida. Ou vais me dizer que não?

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