quarta-feira, 23 de abril de 2008

Domando a própria fúria...

Porque o mal não consiste em sermos visitados por idéias más,
mas por lhes darmos guarida na mente e no coração.

Porque o testemunho silencioso do material analisado está comprovando o que, mesmo sem querer, o Brasil inteiro já desconfiava; porque os laudos técnicos são provas que não mascaram a realidade nem se pode refutar; para que a história infeliz dos Nardoni não contamine as famílias brasileiras e para que possamos aprender com ela sem termos que, necessariamente, vivenciar a mesma coisa, eu preciso falar...

Preciso lembrar que, há dois mil anos, o Cristo já alertava a humanidade para o que estamos vivendo agora: “É necessário que haja os escândalos!”. Mas não deixou espaço para qualquer escusa diante de um malfeito: “Mas ai daqueles por quem os escândalos venham”. O próprio Pedro foi advertido quando se deixou levar pelas emoções: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

O que se observa, no entanto, é que se passaram os anos, os séculos, milênios, mas os ensinamentos do Mestre continuam ainda tão atuais quanto necessários aos homens porque ainda não aprendemos com eles...

É por não conseguirmos controlar os nossos impulsos que, muitas vezes, somos levados à insanidade, ao desequilíbrio, ao crime, protagonizando desfechos funestos para problemas que poderiam ser contornados com atitudes mais ponderadas.

Em uma análise rápida poderíamos dizer que, se tivesse controlado o seu ciúme, Ana Carolina Jatobá não teria provocado a Oliveira numa hora de tanta dor para uma mãe, tampouco teria agredido com tamanho descontrole a indefesa Isabella se tivesse domado a sua fúria. Alexandre Nardoni, o pai, se tivesse controlado o medo, não teria, de forma tão perversa, arremessado para os braços da morte a própria filha...

Ao acompanhar as cenas do casal ao longo da última semana, especialmente no último dia 18, quando Isabella completaria 6 anos, senti imensa pena desses dois infelizes, que, por conduzirem as suas emoções com rédeas tão frouxas, atraíram para si a revolta de uma nação inteira ao ponto de muitos deixarem os seus afazeres para irem atirar pedras e insultos nos “desprezíveis assassinos”.

O luto da pequena Isa já não diz respeito apenas a sua mãe, mas a todo o povo brasileiro, que se comoveu e se indignou com a morte da menina. Mas aquela que sentirá a falta efetiva da criança, no entanto, é quem tem dado o verdadeiro exemplo de fé, equilíbrio e serenidade que o momento pede. Silenciada em sua dor pela morte da filha amada e fortalecida na fé naquele que é o verdadeiro pai de todos nós, compreende que essa morte nada mais é do que “um acidente desprezível” na vida infinda de sua Isabella, como escreveu na sua página de Orkut.

Enquanto aqueles dois se encarceraram voluntariamente, por tempo indeterminado, numa espécie de morte em vida, ao intentarem se livrar de um “pequeno fardo”, a mãe e a menina vão sendo libertadas das amarras constritoras da alma num emocionante vôo de libertação. Enquanto aqueles mergulharam, de cabeça para baixo, numa longa noite escura, essas acordam para um novo alvorecer, com todos os tons e cores, embora as gotas de orvalho a lhes umedecer o coração...

A nós cabe analisarmos esse caso com profundo amor cristão para que não venhamos a incorrer no mesmo erro, sendo traídos pelo descontrole emocional, porque a raiva, o ciúme, o medo, a revolta e a ansiedade são sentimentos comuns a todos os seres humanos, mas o que nos diferencia uns dos outros é a forma como lidamos e conduzimos essas emoções. Como diz o médico e amigo Fernando Caldas: “Ninguém nasce psicopata!”. Nós nos tornamos psicopatas quando não conseguimos domar os nossos impulsos e as nossas compulsões.

Por isso, é sempre oportuno lembrar a medida profilática prescrita por Jesus de Nazaré, quando diz: “Orai e vigiai!”. Porque o mal não consiste em sermos visitados por idéias más, mas por lhes darmos guarida na mente e no coração.

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