De férias, percorro agora as largas avenidas da capital pernambucana. E é como se passeasse pelas ruas da minha adolescência, reconhecendo seus cantos e redescobrindo os encantos que ficaram guardados nos refolhos da minha mente.
Voltar a Recife é como rever um amor antigo e, com ele, reencontrar a mim mesma, mais jovem e mais livre, em doces lembranças. Cada paisagem reconhecida traz consigo uma história vivida e, com ela, uma emoção que se revela, inteira e intensa como costuma ser com os grandes amores.
O tempo não volta, é fato, e tudo vai ficando diferente com o passar dos anos, mas o Recife tem um vasto patrimônio histórico que é muito valorizado pelos recifenses. Mesmo que progrida e se expanda geograficamente (e como cresceu essa cidade!), e as novidades de uma grande metrópole rapidamente se façam presentes nela, há lugares que ainda são os mesmos em seu aspecto arquitetônico.
Há localidades que parecem ter permanecido imunes à ação degenerativa do tempo e, por conta disso, adquirem uma importância emocional muito grande para os pernambucanos. Como se o Recife tivesse conseguido a proeza de sobreviver à passagem do tempo, permitindo que o passado e o futuro convivam lado a lado harmoniosamente.
No último domingo, aproveitei o dia ensolarado para visitar o zoológico com as meninas e a sua avó paterna. À medida que avançávamos pelas trilhas do horto olhando os animais, eu ia me lembrando das inúmeras vezes que havia estado ali na companhia de Luís Júnior e de mamãe.
Meu irmão fazia residência em João Pessoa e vinha nos visitar uma vez por mês, na década de 80, oportunidade em que passear no zoológico com mamãe era um programa quase sagrado para ele. Gostávamos especialmente de olhar o Papa-mel e os macacos, principalmente o prego e o aranha, que se revelavam exímios trapezistas em seus balanços improvisados. Adorávamos observar os seus movimentos e as suas brincadeiras intermináveis, enquanto mamãe, meio alheia ao que se passava ao seu redor, parecia estar curtindo mesmo era a companhia dos filhos - o melhor dos os presentes para ela.
Curiosamente, apesar do desenvolvimento da cidade - hoje a quinta maior região metropolitana do país - e da grande oferta de entretenimento e lazer, com opções culturais de altíssima qualidade e de grande diversificação, além das inúmeras atrações turísticas, muitas famílias ainda procuram o Horto de Dois Irmãos como diversão dominical, chegando até a fazer fila no portão de entrada.
Crianças de todas as idades, casais de namorados e até idosos e deficientes físicos passeavam alegremente pelas vias de paralelepípedos, observando os bichos. Gente de todas as classes sociais estava ali representada: os mais novos conduzidos pela mão dos mais velhos, enquanto os mais idosos, ou portadores de alguma deficiência, seguiam acompanhados pelos mais jovens.
Apesar das lembranças – sabedora de que o passado é um período de nossas vidas que deve ser utilizado apenas como referência histórica (para eventuais pesquisas ou sedimentação de nosso aprendizado) –, tratei de aproveitar o passeio para “repaginar” as minhas lembranças do Recife com novas estórias e vivências, que iriam povoar as lembranças futuras das minhas filhas. Animadas, tiramos fotos, observando novos ângulos do velho zoológico (também já velho conhecido delas), e finalizamos a tarde com um saboroso lanche ao pôr-do-sol.
Andar pelo Recife é como passear por dentro de mim mesma, em uma cidade que talvez nem exista mais, mas em cuja lembrança a minha alma descansa, nutrindo-se e se fortalecendo para seguir viagem e acender suas luzes em outras paisagens.
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