terça-feira, 27 de janeiro de 2009

À sombra da caramboleira...

É embaixo da caramboleira – de frente para o amplo horizonte verde que se estende por trás da casa de D. Nega, na região metropolitana do Recife –, onde o sol se esconde ao cair da tarde e lança os seus primeiros raios ao amanhecer, que eu gosto de ficar no início do dia e no entardecer para meditar e escrever escutando a cantilena das cigarras.

Maya sempre me acompanha, aproveitando a oportunidade para brincar com Ping (que também nos acompanha nessas férias) e o primo Marcelino, ressaltando sempre que esse cantinho alimenta a alma e refresca o corpo, com a suavidade da brisa e a paisagem relaxante.

Repleta de suculentos frutos, que caem a todo instante ao nosso redor, a árvore nos oferta, generosamente, o saboroso refresco da tarde, que alivia sobremaneira o calor sufocante do verão pernambucano.

Fruta de muitas propriedades, a carambola é rica em sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e contem as vitaminas A e C, além do complexo B. Ela é considerada uma fruta febrífuga, por ajudar no comate à febre, e antiescorbútica, por curar o escorbuto – doença provocada pela carência de vitamina C no organismo, predispondo o doente a hemorragias frequentes.

Além de estimuladora do apetite, o fruto da caramboleira ainda é utilizado pela medicina popular no tratamento de afecções renais, o que me faz lembrar de um episódio singular que me ocorreu no início de 2001, quando minha mãe estava internada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Caruaru, no agreste pernambucano.

Como só podíamos vê-la no horário de visitas, os meus irmãos e eu nos instalamos em um hotelzinho, que ficava nas imediações do hospital, para onde acorríamos em busca de descanso ou para tirar um cochilo no intervalo entre uma visita e outra.

Pois bem! Estava descansando numa manhã de sábado, quando ouvi um homem gritando repetidas vezes a seguinte frase: “Pode tá podre o rim e o figo, mas o remédio é carambola!”. Apreciadora de cenas pitorescas, corri à janela para ver do que se tratava. Achando muita graça, descobri que era um vendedor ambulante quando ele, após repetir mais uma vez a curiosa frase, percebeu a minha presença no primeiro andar e atacou: - Quer, “cumade”? Meneei a cabeça negativamente e fui correndo anotar a frase que, só agora, tive a oportunidade de usar.

Foi aí que eu fiquei sabendo sobre as propriedades dessa fruta que eu adoro. Aliás, o que eu amo mesmo é colher as frutas diretamente no pé, o que, ao meu espírito romântico, parece dar a elas um sabor todo especial. Mangas, por exemplo, cajus e pitangas também, são frutas que eu só chupo se forem tiradas na hora; de preferência, se forem colhidas com as minhas próprias mãos.

Por conta disso, levei o maior tombo na infância, quando inventei de subir num pé de siriguela para tirar as mais madurinhas, que estavam no topo. Quando estava chegando lá, pisei em um galho seco e saí despencando de braços abertos, me arranhando toda. Resultado: passei dias sem poder fechar direito os membros superiores.

Já no início da década de 90, quando estava grávida de Jade, outro fato engraçado me ocorreu com relação às carambolas. Passava por uma casa que tinha uma caramboleira na frente, juntamente com Simone e Zoza – dois irmãos que a vida me deu –, quando observei que o pé estava carregado. Ao ouvir sobre o meu desejo (a boca já cheia d’água), Zoza, que era apenas um rapazola, não contou história: subiu no pé e só saiu de lá quando tinhamos enchido duas sacolas da fruta.

Durante uma semana a minha predileção foi posta à prova, pois era suco de carambola no café-da-manhã, no almoço e no jantar. Sem falar nos intervalos, quando ainda pegava uma ou duas unidades para mordiscar a carne e sorver o sumo com os próprios lábios.


@para Simone e Zoza.



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