quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Acerca do tempo...

(foto: Yvette Moura)

E eu, que gosto de colher histórias e frases alheias, fiz-me receptiva à vontade que se impunha para falar de si...
Na penumbra da sala fui grafando sobre a folha em branco as palavras que me chegavam à mente como um ditado: “A brisa faz dançar pelo espaço os tecidos esvoaçantes dependurados nos varais das casas do velho subúrbio. A mesma brisa carrega pelo ar uma mistura de odores: flores, frutos, alimentos sendo cozidos nos fogões das casas.
A manhã morre sob o sol escaldante, enquanto todos são convidados a voltar ao lar para a reunião do almoço. Antero, como um animal ferido, permanece acuado num canto de uma calçada poeirenta, nos fundos de uma loja de departamentos.
A brisa, com os seus cheiros convidativos, também lhe chegava às narinas, mas ele não tinha um lugar para voltar; não havia uma família ou um grupo qualquer que o esperasse...
Estava só! E nada tinha para alimentar o corpo alquebrado. Embora o vazio no estômago e a dor nas entranhas do corpo maltratado, o que mais lhe doía era o isolamento. Era a sensação de abandono social que mais machucava a sua alma.
E a consciência – juíza até dos mais inconscientes – cobrava-lhe uma vida de amor e dedicação ao próximo, mas questionamentos outros afloravam à sua mente: “Por quê? Por que comigo?”
De repente, as palavras assumiram um tom mais didático e uma singela mensagem foi transmitida numa atmosfera de amor fraternal. Para a minha surpresa, foi o próprio Antero quem assinou o texto, concluindo: “Aproveito, meus filhos, para refletir sobre o bom emprego do nosso tempo, sobre o aproveitamento do conhecimento adquirido e o uso da nossa inteligência.
Aproveitemos sem demora o nosso tempo, o tempo precioso que nos é concedido por Deus aqui, para que, mais tarde, não nos sintamos preteridos, nem venham a miséria, a solidão e a doença nos lembrar do tempo perdido”.
Para muitos, eu sei que essas palavras podem não representar coisa alguma. Sei também que podem ser negligenciadas pelos inconsequentes, que buscam esgotar, nessa existência, todas as possibilidades de prazer que a vida mundana oferece. Para eles, as festas, as sensações imediatas, as paixões e as conquistas do mundo hodierno são a melhor forma de empregar o tempo e conduzir a vida: viver até a exaustão dos sentidos, seguindo o modelo hedonista.
Mas o meu entendimento sobre a mensagem é outro. Ela fala da necessidade de se conduzir a vida de forma mais construtiva e dedicar o maior tempo possível à formação de indivíduos ilibados e maduros. Chama a atenção para a importância da família e a reunião desse grupo à hora da mesa, assim como para o exercício da caridade desde cedo...
Hábitos simples como as palavras de Antero, mas absolutamente necessários às famílias de hoje – consumidas e atormentadas pela droga e pela delinquência...


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