quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O horizonte...

Amanheceu um dia frio, aqui – em pleno verão recifense –, e, agora, a chuva cai ruidosa espalhando vida e viço por todo lugar. Um verdadeiro presente dos céus para aliviar o calor da capital pernambucana nessa época do ano. Ouvi trovões durante a noite, e raios riscavam a escuridão como fios de neon...

Para escrever aos meus leitores, hoje, eu abri a janela do quarto em que estou hospedada, na casa de Dona Nega e Simone – que fica no alto de Camaragibe (Grande Recife) –, e me sentei bem na ponta da cama para sentir o sopro friozinho da chuva na nuca e escutar os pingos saltando em queda livre sobre a folhagem das plantas.

Aliás, planta, aqui, é o que não falta. A casa é rodeada por árvores de várias espécies, parecendo mais uma pequena floresta no meio da civilização. Carambola (lembram da crônica do ano passado?), manga, banana, caju, acerola, abacate, goiaba, jaca, coco verde, graviola, pinha... Tudo se tem por aqui, formando uma paisagem rica e singular. O que antes não passava de um terreno em declive, com poucas condições para o cultivo, hoje é uma diversidade de verdes a perder de vista.

É que a avó das minhas filhas adora plantar e tem mãos de fada nessa especialidade. Nascida e criada no interior do Maranhão, o cultivo da terra sempre foi uma ciência dominada por ela, que não poupou esforços quando chegou aqui – na chácara que ganhou dos filhos, na década de 90 –, cuidando logo de capinar o mato, tratar o solo e plantar as suas mudas.

Por onde passava ela arrumava uma plantinha nova, como a banana pão e os pés de acerola, que trouxe da casa de Ana, em São Benedito do Sul, e as folhas de babosa, vindas de Maceió; a mente sempre plantada no seu promissor pedacinho de chão...

O pôr-do-sol, aqui, é um espetáculo à parte. Visto da janela da cozinha, o fim de tarde pinta o céu de variados tons de laranja e rosa, que, emoldurado pelo verde das árvores, enche os olhos de ternura e paz. Ao longe, as portas das outras cozinhas humanizam esse cenário, trazendo sons e cheiros diferentes. Como é rota dos aviões que chegam ao Recife, também o barulho das aeronaves que passam, lá nas alturas, dão uma pincelada a mais nesse quadro bucólico, que eu gosto de contemplar.

Outro dia, quando o céu parecia tamponado por um mormaço sem fim, eu aproveitei o calor para varrer embaixo do pé de carambola e preparar assim o meu ambiente preferido para as leituras e divagações, enquanto Marcelino tagarelava lá do alto. Quando tudo estava limpinho, peguei duas cadeiras e as coloquei de frente para o pôr-do-sol, dizendo que era para apreciar o horizonte.

- Tia, o que é o horizonte? – perguntou-me o primo das meninas (de sete anos de idade), já em solo firme, ao lado de Maya.

- Para ver o horizonte é preciso olhar firme para aquela direção e permanecer em silêncio durante alguns minutos... – respondi, apontando para frente, numa discreta tentativa de fazer ele se calar um pouquinho.

O menino forçou os olhos na direção das árvores e tentou não falar por alguns segundos, mas a energia excessiva da infância não lhe permitiu fazer silêncio por muito tempo. Levantou-se logo em seguida, arregalou os olhos na direção da casa e gritou:

- Oh, vó, o que é o horizonte?

A resposta não veio, e ele rapidamente se esqueceu daquele desafio. Mas, para ter certeza de que o assunto já havia sido esgotado, arrematou:

- Daqui, eu só ‘tou vendo mato!

Pois, para os meus olhos treinados, a alma irmanada com a natureza e os ouvidos sequiosos de cantos mais sutis, isto aqui é uma beleza! – pensei. Para mim, que entrei em reservas de mata atlântica três vezes no ano passado e pernoitei no topo da cachoeira do Tiririca (Murici), no final de 2008, o contato com a natureza é fundamental para a saúde integral do ser humano. Você duvida? Então, experimenta!

2 comentários:

Anônimo disse...

Astral melhorou, né Mokinha? Fiquei com saudade de andar por Aldeia... Pelo que eu entendi, você está naqueles arredores... Finzinho de férias... Se refazendo antes de voltar para a real... "Proveite", visse? bjks,

S.

Yvette Maria Moura. disse...

isso. isso. isso.
bjos.