quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Nas entrelinhas...

(foto: Yvette Moura)

Quantos sorrisos infantis ainda serão desfeitos, como uma pintura de aquarela que levou água demais e diluiu o contorno? Quantas famílias mais ainda vão ser destroçadas ao perderem, de repente, os seus entes queridos? Quantos membros, órgãos, pernas, braços ainda serão arremessados janela afora, amputados ao acaso, descompromissadamente? Quantas vidas inocentes, enfim, ainda serão ceifadas prematuramente, ante a impotência, dor e indignação de quem só pôde assistir?

No Brasil, segundo o site oficial do judiciário brasileiro, a infeliz combinação “álcool mais direção” tem sido a responsável por cerca de 35 mil mortes por ano – um número assustador, especialmente quando se leva em conta a rotina dos Juizados Especiais e das Varas de Trânsito, regularmente assoberbados com os crimes dessa natureza, em sua maioria motivados pela embriaguez.

O que angustia é que, nessa guerra, não se sabe ao certo de onde exatamente é que o inimigo vem. Apenas de uma coisa pode se ter certeza: a sua arma é tão poderosa que foge ao controle dele próprio. Uma vez desgovernado o veículo, e havendo um bêbado no seu comando, o resultado é tão desastroso quanto surpreendente.

No mundo inteiro, calcula-se que o transito mate cerca de um milhão e duzentos mil pessoas por ano, portanto, reduzir o número de vítimas fatais e de pessoas sequeladas por acidentes de carro tem sido uma preocupação constante para muitos países. A França, por exemplo (ainda de acordo com o site do Judiciário), conseguiu diminuir de dezesseis para oito mil mortes por ano, na última década, e pretende reduzir este número para menos da metade até o final de 2010.

No Brasil, para inibir o consumo de álcool no transito, o Governo vem incrementando a Lei de Trânsito ano a ano, tendo instituído mais recentemente a Lei Seca, que proíbe os estabelecimentos próximos a rodovias federais de comercializar bebidas alcoólicas – sob pena de salgadas multas – e estabelece o uso do bafômetro nas Blitze, entre outras coisas. Mas, infelizmente ainda há muita condescendência para com esse tipo de delito, oferecendo-se, inclusive, atenuantes para o infrator que prestar socorro à sua vítima.

Mesmo assim, as campanhas têm sido cada vez mais diretas e incisivas, como o mórbido apelo da SMTT para o carnaval deste ano – que muitos acham de mau gosto, mas não podem jamais dizer que se trata de um exagero. A campanha mostra a mais pura realidade: álcool e trânsito não combinam nem no carnaval!

Mas o problema é muito mais sério e complexo do que se pensa e, no meu entender, não será resolvido apenas com multas e bafômetros, mas com educação de base. Há que se mudar a mentalidade do brasileiro. Mais que isso! Há que se mexer até nos cofres do país, reformulando os prováveis “acordos” entre o Governo Federal e o empresariado desse mui rendoso seguimento do mercado.

Pense comigo! Não é um paradoxo que se proíbam os estabelecimentos comerciais de venderem bebidas alcoólicas nas rodovias federais, mas haja tanta permissividade para com a propaganda indiscriminada desses produtos, que ocupam o horário nobre das televisões brasileiras, principalmente a cachaça e a cerveja?

Como podem, então, os jovens – que ainda estão formando a sua personalidade e buscam se afirmar no meio social – e aqueles adultos que se habituaram a utilizar os alcoólicos para vencer a timidez e melhorar a autoestima assistir a apelos tão veementes e fazer “ouvido de mercador” para eles?

Afinal, quem não que ser o “Nº 1” do pedaço, ter um dia “redondo” e tomar alguma coisa bem “gelaaada” para aliviar o “calorão” desse clima tropical? Quem não quer ser o mais descolado, o mais popular, o mais bonitão? Sinceramente, alguém deve lucrar com isso. Mas, com certeza, não é o povo brasileiro.

2 comentários:

jacqueline marlene disse...

por que criança desencarna????

Apesar de ser espírita,não me conformo amiga.

Bjs.

Yvette Maria Moura. disse...

entendo...
a morte na infância parece uma derrogação das leis de Deus, não é, amiga?
mas, na verdade, tudo está dentro da programação divina; e seguindo as leis do Amor e da Justiça. no Evangelho Segundo o Espiritismo há um capítulo que fala sobre isso (e no Livro dos Espíritos também).
como não é o tema central do texto, vou deixar apenas esta dica, mas se quiseres aprofundar esta questão, tu podes me mandar um e-mail e eu te explico melhor.
mas, uma coisa é certa, até a morte está submetida à misericordia divina, por mais que a gente não compreenda ainda...
bjos, Jac.
e obrigada pela visita!