quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tempo de não fazer nada

Ansiava pelo silêncio e a calmaria daquelas dependências assim como o sedento sonha com um copo d’água...

Como se mergulhasse numa cápsula do tempo, abri a porta do carro e deslizei o corpo sobre a poltrona, fechando o mundo das obrigações atrás de mim. Ambiente escuro, anatômico, logo me acomodei confortavelmente e dei partida no automóvel, com Adrea Boccelli me levando para bem distante. Nos próximos trinta dias, teria tempo de sobra para relaxar, passear e fazer tudo o que tinha direito.

Essa idéia, de repente, me deu medo: o tempo pareceu-me grande demais para ser abarcado pelas minhas mãos. O que vou fazer com ele? Pensei. De que forma vou ocupá-lo? Pensei em mil coisas que poderia fazer naquela tarde, mas nada parecia bom o suficiente para acalmar a aflição da minha alma: estava “livre” e não sabia o que fazer para tirar proveito da nova condição...
Rodei por algum tempo a esmo e tentei algumas ligações, em vão. Então voltei para casa e fiquei bem quietinha até aquela angústia passar. Segui o que sempre me aconselha a consciência em situações instáveis: quando não souber o que fazer ou que rumo dar à sua vida, não faça nada de que possa se arrepender mais tarde. Foi o que fiz.
Procurei o ambiente seguro do meu lar para olhar a situação de frente e investigar meios de resolver o problema sem muito alarde. Enquanto isso, eu me ocupei das coisas pequenas, imediatas, que reclamavam atenção e adotei medidas para prover as necessidades mais urgentes da minha vida até me ajustar à realidade incômoda. Como diz o ditado, aquilo que não tem solução, solucionado está (eu acredito nisso!).
Quem lê pode achar um exagero ficar “fora de tempo” com a chegada das férias, mas eu assevero que não é fácil parar quando se tem por hábito o trabalho constante e uma série de responsabilidades extras e compromissos que se leva muito a sério. Para mim, além de necessidade, o trabalho é uma excelente terapia ocupacional.
Foi então que eu me dei conta de que, mesmo havendo tempo de sobra, as coisas não precisariam mudar assim às pressas; tudo poderia acontecer aos poucos, paulatinamente.
Mas uma coisa era certa: eu estava precisando aprender , urgentemente, a lição do “não fazer nada”. Acordar calmamente, caminhar pela casa, escutando o canto dos pássaros lá fora... Esticar o corpo, molhar as plantas do jardim... Acompanhar com os olhos, o nariz, os ouvidos, e o resto dos cinco sentidos, o movimento da vida, dentro e fora de mim...
Há quanto tempo não fazia isso, por causa da correria diária? Quantas vezes desejei aguar as plantas ao amanhecer, mas não o fiz por absoluta falta de tempo? E caminhar na praia, tomar um café com um amigo, bater um papo gostoso sem ficar consultando o relógio ou ter hora certa para acabar...
Quem me conhece sabe que eu não estou, aqui, fazendo apologia à ociosidade, pois esta não é a minha prática. Mas lembrando do distanciamento saudável e necessário que precisamos nos proporcionar, ao menos uma vez ao ano, para recarregar as baterias e cuidar de outras necessidades – tão urgentes quanto às obrigações diárias –, que sempre vamos deixando para depois.
Lembro que nas férias das meninas do ano passado (porque mãe nunca tira férias!), eu esticava os olhos para o convento de Camaragibe, sempre que passava por lá, desejando me hospedar ali, alguns poucos dias, só para descansar. Ansiava pelo silêncio e a calmaria daquelas dependências assim como o sedento sonha com um copo d’água...
Sendo obrigada a passar a primeira semana das férias sozinha, por força de compromissos inadiáveis, foi que pude viver o distanciamento dos conventos, como desejei no verão passado. E rever amigos, ir à praia, cuidar do jardim – assim que os receios de solidão se dissiparam – foram alguns dos benefícios que colhi por estar a sós comigo mesma. E o que aprendi nesses dias, certamente, compartilharei com os meus leitores mais na frente... Avancemos.

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