terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pessoas são milagres...

(foto: Yvette Moura)

Se a vida parecia sem graça e ansiava por novas emoções, ele conseguiu elevar o potencial destruidor escondido em sua alma e experimentar toda adrenalina possível nesta existência...

Se a sua vida era certinha demais e todos o admiravam por isso, pode-se dizer que ele conseguiu “entornar a água do balde” e jogar tudo para o alto em poucos meses, sofrendo amargamente as conseqüências do seu “pequeno deslize”.

Pensando sobre ele, cheguei muitas vezes a derramar lágrimas de compaixão, numa tentativa vã de compreender como uma pessoa tão bem quista, e com uma vida aparentemente perfeita, pode fazer tanto mal a si mesma e gerar tanta mágoa e sofrimento em torno de si, para as criaturas que mais estima.

Os descaminhos criados pelo Homem têm gerado sofrimentos atrozes para ele mesmo e espalhado dor e traumas sobre quantos lhe compartilhe a convivência e os compromissos. Mas o tempo tudo cura...

Escreveu-me em meados de novembro, enviando foto dos “caçulas” em algum evento social. Em resposta, perguntei sobre os primogênitos (de 14 e 11 anos, respectivamente), que vivem com a mãe, no estado de Tocantins, desde a separação. Como estariam? Como lidavam com a tumultuada separação dos pais? Falavam-se frequentemente?

Toquei no ponto fraco. Falou-me sobre saudade – dessa que dá no meio do dia, sem qualquer motivo aparente, deixando os olhos rasos d’água –, lembrando que, apesar de se comunicarem diariamente, e de tê-los presenteado com os eletrônicos do momento, não os via há cinco anos. “Sinto a maior vontade de abraçá-los, beijá-los, brincar com eles...”, declarou emocionado.

Não me fiz de rogada e respondi, de imediato, incentivando-lhe a encurtar essa distância em 2011. “Dê um jeito de ir vê-los, por favor! Nada é mais importante do que o amor traduzido em gestos de afeto. Vá vê-los. Abrace e os beije muito. Passeie com eles... E tire muitas fotos para que eles possam preencher, com imagens felizes, essa lacuna que se instalou entre vcs. E, por favor, me mande algumas fotos desses momentos” – reforcei, desejando sinceramente que essas providências fossem tomadas até o final do ano.

Mas para minha surpresa, mal havia começado o mês quando recebi outro e-mail do querido amigo de infância, no qual enviava fotos dos seus primeiros filhos (abraçados ao pai), e traduzia toda sua felicidade em poucas palavras. “Fui a Palmas. Vi meus filhos e trouxe minha filha comigo. Obrigado pelas suas orações! – completando posteriormente – Foi bom demais ver meus filhos. Brincamos, passeamos, dormi abraçado com eles, carreguei-os nas costas”...

Surpresa, alegria, gratidão: um turbilhão de sentimentos me invadiu a alma ao sentir o poder das minhas palavras no coração daquele homem sofrido. Em verdade, nada fiz de extraordinário, mas fora o empurrãozinho que faltava para que a coragem sobrepujasse o medo, o sentimento de culpa desse lugar ao pedido de perdão, e o amor ocupasse definitivamente o lugar obstruído pela mágoa.

Para mim, não há dinheiro que pague um momento como esse, nem ouro que brilhe mais do que as lágrimas do reencontro; também não há acordes mais doces do que o ribombar de um coração que ama. Além do que, é a prova de que o bem que fizermos hoje, certamente voltará para nós, como um bumerangue...

Anos atrás, estava abatida pela morte do meu pai, quinze dias antes do Natal, quando este mesmo amigo bateu à minha porta, em Canhotinho, e me convidou para “dar uma volta”. Um dia, foi o amigo de infância que, deficiente, mal saia de casa; outro, uma família carente, que se abrigava na velha estação de trem, às margens do Rio Canhoto. E o preso que visitamos, as cestas básicas que distribuímos no Natal...

Naqueles dias difíceis, ele foi a ponte que me tirou da tristeza e reforçou o amor de Deus, ainda mais, dentro de mim.


@para Allan.

Um comentário:

Anônimo disse...

Asim não vale (rs).
É impossível (para mim) conter as lágrimas. Vou mostrar pra ela (Narinha).
Ela gosta de escrever. Ganhou uma medlaha lá em TO com uma crônica.
Ela pode ser tua amiga? Gostaria de vê-la junto contigo...