terça-feira, 17 de maio de 2011

"Di pari passo"

Às vezes, tudo o que se quer apenas é cumprir a sina do dia e deixar que a noite chegue sem assombros, adormecendo as cores e calando os rumores do mundo. Lavar a louça, cuidar da casa ou do carro, matar a sede das plantas, ou simplesmente aquietar-se num canto para ler um bom livro, ou ouvir um som, é tudo o que se precisa para recobrar a serenidade.

Já os projetos maiores, as ações de maior impacto, as tarefas desafiadoras, podem ficar para depois ou serem executados nos dias seguintes. Mas nesses, só as coisas mais urgentes, ou aquilo que se faz por puro diletantismo, devem ser priorizadas.

Esquece a identidade, os cartões de crédito, o CPF, e te resguarda de ti mesmo, assim como dos convites ocultos que podem te perder. Hoje, só hoje, deixa a vida correr ao sabor do vento; mantém a TV desligada, o celular no bolso da calça, o batom esquecido sobre a pia, o pão dormindo no saco – para, depois, virar torradinha –, o lixo repousando na lixeira...

Como um bicho ferido, é necessário parar um pouquinho para lamber as feridas e se recompor, às vezes. Porque ninguém é de ferro, e, nesses dias, é preciso repor as energias, reencontrar-se consigo mesmo, delimitar o seu espaço e reconhecer-se. Para voltar a cultivar a esperança e se lançar novamente rumo ao horizonte – sempre em frente! –, como deve ser.

Mas, para se chegar ao longe, é preciso palmilhar a estrada di pari passo com a perseverança, convicto de que o fim está sempre mais próximo para aquele que caminha.

Às vezes, a gente fica nublada mesmo, como um dia de outono. Uma manhã chuvosa, uma tarde fria, o céu coberto de nuvens, uma noite comprida, são imagens que traduzem bem o psiquismo da criatura humana, com seus altos e baixos. O isolamento é inevitável, assim como o são o silêncio e a respiração lenta e profunda: instintivamente, a alma se resguarda e economiza energias. Com o coração opresso, até respirar, às vezes, parece difícil; que dirá sorrir!...

Tudo isso é comum a você e a mim, tenho certeza. Então, dá-te um desconto também! Aceita os teus dias difíceis, com paciência e coragem, como partes integrantes da vida – inevitáveis quanto necessárias para o aprimoramento. Afinal, nem tudo são sorrisos e flores, ou dias felizes, por aqui.

O que não pode ser é a persistência desses dias sombrios diuturnamente. A frequência da tristeza, a ausência de humor, o enfado constante, a falta da alegria e de um sentido maior para a vida predispõem à depressão e constituem um estado mórbido de inércia que beiram a patologia.

Contra isso é preciso lutar, sim. Procurar ajuda e se conectar com o Criador, através de leituras edificantes e da oração, são recursos importantíssimos dos quais não se pode prescindir. Porque a vida é um bem precioso demais para ser desperdiçado pelas vias da loucura ou do suicídio. Ademais, a continuidade da vida é uma constatação excessivamente dolorosa para quem pensava mergulhar no vazio...

Viver será sempre a melhor resposta ante os embates da vida. Porque os desafios ampliam a nossa inteligência e as dores nos fortalecem mais e mais. E, cá para nós: o melhor está sempre por vir.

Nenhum comentário: