sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A rede

 
(foto: Yvette Moura)

Se não está na posse, nem na fama, tampouco se encontra na efemeridade da beleza física;
Se não está circunscrita a um grupo seleto, ou em meio a ruidosos encontros, nem restrito ao mais profundo isolamento;
Se não se pode adquirir em lojas de grife, nem na obscuridade das vendas clandestinas, ou herdar de parentes;

Se não se absorve por osmose, ou pela simples convivência com alguém, nem é objeto de escambo;

Com quantas mãos se constrói a felicidade?
Tecendo essas reflexões no dia em que meu pai completaria 92 anos (07/08), se estivesse aqui com a gente, não demoro a reconhecer que temos muito mais a agradecer do que reclamar, a cada existência.

O que somos hoje é um somatório de tantos esforços, da anulação silenciosa de tanta gente, que, se passássemos a vida listando as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para o nosso bem-estar, e tentássemos fazer algo para retribuir a sua cooperação na construção de quem somos, não faríamos mais nada.

E, provavelmente, ainda ficaríamos devendo para as próximas encarnações...

Isso sem falar naqueles que temos na conta de “malfeitores”, desafetos ou inimigos, que, a partir de cuja ação, ou passagem pela nossa vida, promovemos mudanças determinantes em nossos passos ou comportamento.

Uns foram responsáveis pela transferência da escola; outros pela mudança de emprego; outros, ainda, nos levam a mudar de endereço, de atitude, de comportamento...
E olha que eu não mencionei aqui aqueles que nortearam os nossos passos através de suas obras, compartilhando conhecimento e nos inspirando a construir o próprio caminho!

Nem citei os amigos, que nos acompanham de variadas maneiras, imbuídos do propósito divino de nos alertar, instruir, sustentar, intuir, entre outras ações benfeitoras, a fim de lograrmos êxito nas experiências terrenas.
Nem listei os que nos perseguem, arruinados e feridos por nossas ações pretéritas, reclamando vingança ou reparação.

Ao final, vamos descobrir uma rede imensa de criaturas, nos dois planos da vida, que nos levam a seguir em frente e fazer novas escolhas; algumas mais acertadas, outras nem tanto assim.
Por motivos diferentes, elas merecem o nosso respeito e, igualmente, a nossa gratidão.

Porque sei que a lista é imensa, portanto, e que eu não daria conta, em muitas encarnações, de demonstrar o meu reconhecimento a todos que, direta e indiretamente, me fizeram chegar até aqui, com alguns méritos e aquisições...
Hoje eu quero agradecer a Deus pelo pai que tive nesta existência e rogar as Suas bênçãos para este espírito que se tornou tão caro para mim, embora o curto prazo que tivemos para sanar as nossas feridas e dirimir as diferenças.

Hoje quero dizer “Obrigada”, meu pai, por teres aceitado a nobre tarefa de me acolher em tua vida, como filha, e, dentro das tuas limitações, me prover do necessário para cumprir, pelo menos, um terço do planejamento reencarnatório de espírito devedor e necessitado que trago.
Recordando as tuas lágrimas, no alto dos teus oitenta anos, ao falar de tua mãe – quando conversávamos no quintal de casa*, tarde da noite, enquanto ele aguardava chegar a água da rua para encher a cisterna e prover as necessidades da família –, hoje, eu repetiria as tuas palavras, em profundo reconhecimento a tudo que fizeste por mim, mesmo sem saber.

“Quando estava com algum problema, mesmo já adulto e com filhos, bastava ir à casa dela e ficar por ali, observando-a transitar entre os afazeres do dia, para me acalmar e seguir em frente, mais confiante e feliz”.
*Canhotinho - PE.

Nenhum comentário: