quinta-feira, 25 de maio de 2006

Primeira carta

Maceió, meados de maio, em meio às chuvas e dias nublados do segundo trimestre do ano de 2006...
Escrevo para um tal João. E talvez por isso me chame Maria e tenha esse hábito antiquado de escrever cartas. Ou seria o contrário? Chamo-me Maria e tenho o estranho hábito de escrever sobre sentimentos e impressões e, talvez por isso, por que todo rio anseia um mar, endereço cartas a um certo João... Haverá, no entanto, sempre o mesmo impasse: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem foi o primeiro a ser descoberto, a América ou Cristóvão Colombo?
Já, para mim, pouco me importam essas questões filosóficas que se popularizaram em botequins. Embora os bêbedos pareçam ser os mais lúcidos, os mais capacitados para entender as fraquezas humanas... E perdoá-las também.
Não quero mais, João, chorar minhas lágrimas infrutíferas, ocas de adubo ou fertilizantes da alma alheia. Não quero espalhar meus sorrisos para quem não saber colhê-los, para quem não decodifica os sorrisos como a mais singela expressão da alma...
Também não vou sair por aí disparando minhas metralhadoras intelectuais, destravando uma língua ferina porque eu posso, e muito, também ser ferida...
E aí cairíamos todos na mesma miséria, a mesma desgraça humana que se vê por aí, praticando o olho por olho, dente por dente, no descrédito moral, na desarmonia interna que ninguém, ninguém João, pode reorganizar por outrem. Ouviste?
E por hoje é tudo, meu querido, que tenho a dizer-te. Espero que amanhã a chuva esteja mais amena, aqui dentro e do outro lado da janela...
Aceita, como sempre, esse meu beijo, distante, porém distinto, de quem te ama desde sempre.

Tua
Maria.

Nenhum comentário: