terça-feira, 20 de junho de 2006

Sem tempo de dizer adeus

Por mais que eu estude ou lide com a morte, através do Espiritismo (que se aprofunda nas questões pertinentes ao Espírito, como a reencarnação e o desencarne), ainda me soa estranho essa forma de partir assim, de repente, deixando toda uma rede de relações sem a oportunidade de dizer adeus, ou mesmo, um “até a próxima”.
Não é a morte em si que me abala, pois compreendo perfeitamente a importância dela em nossa vida e todo o mecanismo que está por trás desse movimento contínuo de passagem pela experiência terrena. É a maneira inesperada como ela se processa. A total impotência nossa diante da escolha de sua forma. E a imprecisão quanto à data desse evento, que acontecerá indistintamente para todos nós. Morrer, enfim, não é o xis da questão, mas a forma da morte e a surpresa que ela causa.
Aqueles que caem doentes ou que se vão à velhice parecem nos ter dado tempo suficiente para fazermos as nossas despedidas ou apararmos velhas arestas... Contudo, uma morte como a do humorista Bussunda é o tipo de evento a que se poderia chamar, no mínimo, inesperado. Acredito que ninguém está preparado para uma partida assim. Nem mesmo a pessoa que se vai, sem tempo de dizer adeus. Fica sempre a sensação de que se foi antes da hora...
Outra coisa que me impressiona é a forma invasiva com que a televisão traz para nossa intimidade gente que a gente nunca viu “mais gorda”. “É a terceira pessoa que eu conheço, de pertinho, que morre este mês”, disse uma amiga minha, sem se dar conta de que verdadeiramente não era íntima do artista. Mas eu também fiquei comovida e senti como se tivesse “perdido” um amigo de longas datas...
Bussunda entrava em minha casa, toda semana, com aquele jeito de quem não quer nada, trazendo alegria com sua chegada. Era bem-vindo o jeito inteligente de me fazer rir de coisas que normalmente eu não acharia a menor graça, como as falcatruas do governo, a violência na nossa sociedade e os capítulos das novelas que eu nem acompanhava...
As noites de terça-feira, agora, vão ficar mais “sem graça” lá em casa. Como aconteceu com os primeiros episódios d’A Grande Família, depois da morte do ator Rogério Cardoso, que dava vida ao ‘Seu Flor’ – o avô mais malandro e engraçado da família brasileira.
Também quando da morte, igualmente inesperada, de Ayrton Senna, que abortou o churrasco que preparamos para comemorar mais uma de suas inesquecíveis vitórias. E nos fez parar por quase um dia inteiro na frente da TV para acompanhar o cortejo do herói brasileiro pelas ruas de São Paulo.
E ainda o desencarne violento da jovem atriz, Daniela Perez, assassinada em uma trama macabra, encabeçada pelo próprio colega, em plena fase de ascensão profissional...
Em cada uma dessas histórias, nós, os telespectadores, temos a impressão de estarmos nos despedindo tardiamente de um amigo muito querido. Uma dor que logo passa, dado à volatilidade da fama. Outra característica perversa, eu diria, da pós-modernidade: em que as pessoas elegem e destronam seus ídolos com a mesma facilidade com que trocam a roupa de acordo com a moda.
Quanto ao Bussunda, sentirei saudade do seu jeito ‘meio sem jeito’ de fazer graça. Mas quanto a nós, que aqui permanecemos, penso que a melhor maneira de amenizar o mal-estar causado pela morte ainda é, como diz o poeta, “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Não perder a oportunidade de dizer aos que amamos o quanto eles são importantes para nós. Porque no próximo segundo pode ser tarde demais.




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