domingo, 27 de agosto de 2006

Carta a um amor ausente

Hoje não chove, meu amor.
Mas sinto o hálito frio da noite vir beijar a minha face. E é um contato mórbido esse. É como se recebesse um beijo da morte (justo no momento em que todos dormem e apenas eu permaneço desperta), numa hora em que a noite engole toda réstia de luz, segundo a segundo, com sofreguidão...
Assim é a minha vida, penso. Um pesadelo em que tenho transformado esses dias meus, um após o outro, desde que partiste.
A vida não tem graça, sabe. E eu acho é graça disso! Como é que tudo fica sem sentido e a gente deposita a tão sonhada felicidade nos descuidos de alguém?
Mas agora também eu parto. E dou a minha vida um outro movimento. Contigo, deixo apenas o silêncio do meu sorriso. Porque foi esse o tratamento, sabe, a linguagem que me ensinaste; o tudo ou quase tudo que eu aprendi contigo...
Fecho os olhos e sinto falta da chuva, a entorpecer meus sentidos com seus dedos longos e finos, numa quinta-feira de encontros. Ou é do teu amor que eu sinto falta? Da musicalidade da tua voz a embalar-me o sono, que custa tanto a chegar quase sempre?
Ou é da minha entrega, heim? Do meu jeito, tão sem jeito, de querer ser feliz?
Não lembro, meu amor. Simplesmente não lembro o que mais me faz falta agora: se o teu ou o meu querer bem...

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