quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Entre brincadeiras e a boa vontade

Paulo de Tarso, ou São Paulo, diz que os homens da terra são antes ignorantes do que maus, referindo-se ao comportamento das criaturas. Mas confesso que há certas atitudes humanas que me impressionam sobremaneira pelo alto teor de crueldade e irresponsabilidade que encerram.
Há uma semana, uma cidade inteira vem sofrendo com o desaparecimento de uma criancinha de pouco mais de dois anos. Maceió em peso está solidária à luta e à dor da família da pequena Malu – arrancada dos braços da própria mãe (existe lugar mais seguro?), após uma tentativa de assalto.
Apelos, passeata, panfletagem em todos os locais da cidade já foram feitos e nada. Várias pessoas afixaram a foto da criança em seu carro, na entrada dos prédios, nas instituições e até em suas páginas virtuais. Todos, enfim, de uma forma ou de outra, estão engajados na luta dessa família. No entanto, em movimento contrário ao que se espera da criatura humana, uma parcela mínima de irresponsáveis, dando vazão aos desequilíbrios que traz no íntimo, tem tentado tirar proveito dessa situação. Seja pelos trotes, indicando um paradeiro falso para a menina, seja pelas tais contas bancárias que vêm sendo divulgadas para arrecadar dinheiro para o resgate, essas “brincadeiras” não têm a menor graça!
Dita a boa educação que se a pessoa não sabe como ajudar, melhor que não atrapalhe. Se tais criaturas não encontram motivação suficiente para se engajarem na luta dos familiares dessa criança – que além das preocupações naturais decorridas do fato, têm agora que se preocupar em desmentir todos os boatos e as especulações criadas pela irresponsabilidade de alguns –, é melhor se ocuparem com outras coisas. Porque nenhum de nós está isento de passar por situações semelhantes...
A exemplo disso, lembramos o que passam os órgãos responsáveis pelo resgate de vítimas de acidentes, como a SAMU e o Corpo de Bombeiros, que recebem, diariamente, centenas de chamados fictícios, ocupando assim, os carros e os profissionais que deveriam estar promovendo a vida em acontecimentos reais. Por conta dos trotes, muitos pacientes têm que esperar mais de trinta minutos para serem socorridos.
Nunca foi tão oportuno o ensinamento do apóstolo dos gentios que diz para não fazermos ao outro aquilo que não gostaríamos que se nos fosse feito. Ao invés disso, pratiquemos a solidariedade! No caso de Malu, façamos jus à nossa condição de humanos e, na menor das ações (mas não menos valorosas), oremos por ela e pela sua família. Oremos também pelos jovens delinqüentes, que, num ato de tamanha violência, atraem para si débitos ainda maiores que a própria prática de delinqüir.
Quanto a esses, também me pergunto sobre a legitimidade de suas intenções. O que pensam conseguir com um ato cruel desses para punir a um homem que reage sob o impulso de suas emoções de pai? Eles próprios não fariam o mesmo se vissem seu filho sendo ameaçado pela ação de estranhos? Como se permitem julgar e punir tão severamente toda uma família?
Peçamos por eles também. Para que sejam tocados em seus corações (como filhos de Deus que são) e devolvam a menina. Pois, ainda lembrando as palavras do maior Ser que já passou por este planeta, Jesus de Nazaré, “é necessário que venham os escândalos”. Mas ai daqueles, alertou o Cristo, por quem os escândalos venham! Porque todos seremos cobrados pelo resultado de nossas ações...

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