terça-feira, 6 de março de 2007

Mais do que objeto de desejo

A pobreza, a viuvez, o abandono, entre tantos outros motivos de ordem econômica e social, fizeram com que elas deixassem o ambiente doméstico para cumprir uma extensa jornada de trabalho fora de casa, adotando também um papel que não era seu: o de provedor.

Pela a constituição física, algumas limitações, e a sensibilidade que lhe é peculiar, além de outros fatores que sugerem ao sistema capitalista a desvalorização dessa mão de obra, elas foram exploradas, mal tratadas e tiveram seu trabalho menosprezado pela sociedade machista.

Cansadas de fazerem tanto e serem tão pouco reconhecidas, elas ensaiaram seus protestos. Mas sua luta, embora justa, sempre foi abafada pela violência. Mesmo antes do infeliz episódio em que mais de cem tecelãs norte americanas morreram em um incêndio criminoso – quando apenas reclamavam melhores condições de trabalho, remuneração justa e a redução da excessiva carga horária que cumpriam –, as mulheres já lutavam por seus ideais; sendo a igualdade de direitos a sua maior bandeira.

Passados os anos, muitas foram as conquistas do sexo feminino, embora ainda exista lugar em que da mulher é suprimido até o direito à vida. Porque a ignorância masculina entende que ser fêmea é uma condição menor. Ainda hoje, quando as mulheres levantam a voz em protesto, o que se observa é que, mais do que uma luta de classes, a crueldade dos homens (nos papeis de patrões, esposos, namorados, pais...) delata mesmo é uma luta de gêneros.

Mas o mais triste é que as maiores responsáveis por isso são as próprias mulheres.

As mães contribuem para essa distorção de valores quando se permitem reproduzir nos filhos a educação deformada que receberam; muitas vezes, sem se darem conta de que criam verdadeiras armadilhas para si mesmas.

Se o menino se emociona – “deixa disso! Homem não chora.” –, repetem para os pimpolhos, distanciando-os da sensibilidade que ameaça brotar em seu coração. Se o menino intenta ajudar a mãe nas tarefas domésticas – “sai daqui. Cozinha não é lugar para homens!” –, mandam-no para longe por medo de comprometer a sexualidade do filho. E as esposas seguem repetindo o mesmo modelo...

Esquecem que no mundo não há mais espaço para os que querem apenas ser servidos. Tudo no planeta conclama para o auxílio mútuo e a cooperação, nas mínimas realizações.

Outro dia um amigo comentou, talvez por pura provocação, que nossa cidade avançou no trato com as mulheres: “Maceió agora tem duas delegacias da mulher, enquanto que para o homem não tem nenhuma”. Então lhe asseverei que não via avanço nenhum nisso. Avanço seria se nós não precisássemos de delegacia. Isso sim!

É fato que a criação dessas unidades foi uma conquista. Como também um ministério para tratar especialmente das questões femininas é muito importante. Mas enquanto estivermos precisando desses recursos para garantir nossos direitos ou preservar a nossa integridade física não poderemos estar satisfeitas.

E isto não tem nada a ver com as tecelãs americanas de 1857. Isto tem a ver conosco mesmas, pobres mulheres modernas, que não educamos nossos filhos para demonstrarem seus sentimentos; não lhes ensinamos a respeitarem suas companheiras; não os treinamos para dividirem as responsabilidades do lar e da família, inclusive nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos.

Pobres mulheres modernas! Que ainda nos deixamos posar seminuas nas propagandas de cerveja, em outdoors, nas revistas masculinas, apenas para agradarmos aos homens. Pobres mulheres modernas! Quando iremos fazer jus à luta feminina, tomar as rédeas do nosso destino e permitir que esses “meninos” cresçam?

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