sábado, 9 de junho de 2007

Breve história de um amor duradouro

Como se revelasse um segredo, olhou-a, súplice, e disse:

- Vem comigo! Vou te mostrar um lugar lindo!

E ela segurou sem pensar aquela mão que se oferecia à sua sem nenhum pudor. Entrelaçaram os dedos, segurando firme um no outro, e saíram em disparada, atravessando as ruas adjacentes, ora movimentadas ora desertas, até atingirem o destino a que se propunham.

Era quase noite quando lá chegaram e uma luz fraca se despedia no céu, deixando triste e frio tudo o que jazia escondido por detrás dos portões de ferro, brilhantes e imponentes, que guardavam a entrada do lugar.

Procurou os olhos do companheiro e viu neles um brilho diferente que a convidava a seguir com ele ainda mais um pouco.

- Vamos entrar! Disse em tom solene.

A voz lhe chegando aos ouvidos como um eco dentro de sua cabeça. Não mais articulavam as palavras. Comunicavam-se agora como que mentalmente. Segurou a mão do outro ainda mais firme e o acompanhou confiante, atravessando os portões sem que ninguém os visse.

E o dia se fez noite densa atrás de si. Um silêncio profundo lhes invadiu a alma, enquanto caminhavam pelas sendas estreitas daquele lugar. Mais uma vez ainda, apertaram as mãos e buscaram apoio um no outro sem que precisassem mais se olhar nos olhos, como antes.

Seguiram lado a lado ainda por algum tempo. E uma paz profunda acalentava o peito de ambos, à medida que seus vultos se dispersavam entre a bruma. Como os monumentos, as árvores e os túmulos, mergulhados numa noite sem lua, do Cemitério de Santo Amaro.

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