segunda-feira, 11 de junho de 2007

Sobre as pedras do caminho...

Nem que eu quisesse poderia concorrer com o conhecimento de quem empreendeu inúmeras viagens ao exterior. Ou a experiência adquirida em noites longas e frias de quem dormiu com fome, sem agasalho ou um teto amigo para lhe abrigar. Nem mesmo as línguas aprendidas in loco ou os signos do silêncio de quem preferiu calar...

Nada preenche o vazio do não vivido. Nada fala das culturas que não conheci. Nada substitui os livros que não li, os filmes que não assisti, os idiomas que não aprendi, as pessoas que não conheci... Nada!

Mas também não há o que ateste a ausência de outros conhecimentos ou a sabedoria adquirida no exercício próprio do existir. Nada contesta a comunicação universal alcançada com a língua que eu escolhi: o amor. Não há nada que aponte em mim uma carência fundamental ou que me faça parecer diferente, além do que naturalmente sou...

Porque no fundo somos integrantes de um mesmo organismo chamado humanidade. E, como os rios, corremos todos em direção ao mar: lançadas à vida, as criaturas fazem o caminho de volta ao Criador.

E porque nos tornamos iguais diante da dor, não importa muito o que cada um faça: todos têm a mesma carência de amar e de se sentir amado; aceitar e se sentir aceito; conhecer e se saber conhecido.

Porque ninguém quer passar em branco sobre o solo deste planeta. Ninguém quer ser esquecido. Todos querem ser lembrados por alguma coisa. De preferência, por algo bom que fizeram; algo que lhes perpetue a alma, mesmo depois de terem partido.

Só assim continuarão vivos. E poderão permanecer entre os que compactuam com suas idéias e se deixam influenciar ou inspirar por elas. Só assim a vida fará algum sentido, como plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um filho...

No íntimo, todos albergamos um sonho de felicidade. Queremos um mundo melhor para nossos filhos. Desejamos saber qual é a nossa missão no mundo e o que pode ser feito para que ele se torne melhor. Todos sonhamos com netos e almoços de domingo, mesmo que tenhamos negado tudo isso na juventude ou que estejamos no exato momento da negação...

“Essa história de que é feliz, é uma coisa que você botou na sua cabeça!”, disse um amigo para me provocar. E eu respondi que estava certo: havia mesmo colocado na cabeça que era feliz e tenho me esforçado bravamente para fazer disso uma verdade até hoje. Embora, agora, com mais calma, sem tanta urgência ou expectativas.

Porque a felicidade é o caminho, como diz o sábio, e não a chegada. E a sabedoria está em tornar esse caminho o mais agradável possível, enquanto estamos nele. É observar as flores que crescem na margem. É jogar novas sementes na trajetória dos que cruzam conosco e dos que permanecem ao nosso lado ao longo de toda jornada.

É saber apreciar as rosas, apesar dos espinhos...

Porque não levaremos muito dos lugares por que passarmos, das línguas que aprendermos, dos filmes que assistirmos, dos momentos compartilhados, se o fizermos só pelo prazer. Mas o aprendizado que tivermos sedimentado, esse sim, terá um valor real na nossa bagagem.

Por isso não importa se foste às pirâmides do Egito ou apenas encaraste o espelho para te decifrares. Não importa se foi nas areias do deserto ou em longas noites solitárias que aprendeste a estar contigo. Não importa se foi a bordo de um transatlântico ou nos olhos de uma criança que enxergaste o milagre de Deus: o encontro terá sido o mesmo.

Os sentimentos despertados, a capacidade de transcender o momento, o poder de superação, a descoberta do amor, a solidariedade... Isso é o que verdadeiramente pesa na mochila ao final de tudo. O que faz toda diferença na hora de chegar ou de partir...

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