quinta-feira, 8 de maio de 2008

Carta para mulheres (e para homens também...)

Imprime em cada gesto, em cada fala, em cada ato a marca da alegria.

O que eu posso te dizer, amiga, se também sou humana e trago todas as fraquezas dentro de mim? O que eu posso fazer para aliviar a tua dor se também dói aqui dentro, como em todos os outros? O que eu posso te oferecer a não ser o ombro amigo e o meu silêncio respeitoso enquanto os teus olhos transbordam em desabafos de dor e lágrimas?

O que eu posso te dizer se o meu parco vocabulário não alcança a fundura dos sentimentos e os meus olhos, ainda tão limitados e turvos, mal conseguem te enxergar como uma irmã que reclama apenas paciência e compreensão? O que eu posso te dar, então, a mais que o meu abraço e esses poucos rabiscos na lousa fria de teus dias difíceis?

Afirmando que a dor é a companheira necessária para o crescimento e o amadurecimento das criaturas acomodadas que nós, humanos, somos e que será sempre melhor se nós a olharmos como amiga ao invés de adversária porque sorveremos através dela o remédio amargo que nos há de curar os males.

Lembrando que também isso há de passar, pois a dor não é o fim, mas um estágio. Nenhum mal, nenhuma desdita, por mais longos que possam parecer, compreendem o ponto de chegada para quem quer que seja. A dor é apenas o conduto estreito e abafado que nos há de levar à plenitude da maturidade emocional e espiritual.

Então aceita, amiga, o momento doloroso por que passas e segue adiante, “esperando em Deus” – olhos abertos e atentos em busca das mudanças que, por ventura, possas vir a empreender na tua jornada ou no momento atual! Compreende que a dor é necessária e inevitável, mas o sofrimento é perfeitamente dispensável, pois depende da forma como nós encaramos e recepcionamos o que a vida nos oferta.

Enfrentar a dor, num momento ou noutro da existência, todos nós vamos, mas sofrer, apenas aqueles que cultivam a fantasia e as ilusões passageiras o farão. Aqueles que se apegam em demasia ao tempo bom que se foi, às aparências físicas e sociais, às pessoas que partiram, às coisas que lhes faltam, a tudo o que não viveram ou que gostariam de vivenciar... Também.

Porque o passado, esse rico acervo da nossa própria história, pode se transformar numa perigosa armadilha para aquele que o cultiva, aprisionando-se na amargura ou na saudade de um tempo que não volta mais.

Viver focado no futuro também é um tipo de prisão que subjuga a criatura a vislumbrar apenas o porvir (o que ainda não construiu, o que ainda não conquistou, aquilo que lhe falta, o que pode vir a acontecer...), condenando-a à companhia inseparável da ansiedade.

O melhor tempo, portanto, é o momento de agora, mesmo que te pareça incômodo, e o melhor lugar é aí, exatamente onde te encontras. Pode acreditar! Não percas tempo com lamentações! Não cultives fantasias alienatórias! Olha para tudo que tens – olha mais uma vez! –, então, agradece a Deus e te apossa de ti mesma.

Essa existência é um presente divino: a grande oportunidade que tens de imprimir no livro da tua vida uma nova página dessa história infinda. Escreve, portanto, minha amiga, passagens de heroísmo e ternura, como fazem, no anonimato, as inúmeras mulheres que, inspiradas no exemplo de Maria, não desdenham o sacrifício e vencem a si mesmas – na exclusão social, na dor do abandono, na humilhação, na clausura matrimonial, na ingratidão dos filhos –, desenvolvendo virtudes imortais, como a paciência, a humildade, a sensibilidade e a intuição.

Mas – cuida! – imprime em cada gesto, em cada fala, em cada ato a marca da alegria, convertendo os dissabores da terra em cânticos de louvor ao Céu. Constrói aqui, amiga, no rude cenário onde te encontras, o painel harmonioso com que tanto sonhas, fazendo da tua vida, com ternura e heroísmo, uma belíssima história de amor.

@para Ana C.

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