quinta-feira, 22 de maio de 2008

Poemas de libertação

"Ensinou-me a ver as pessoas pelo sentimento, pelo que elas são, e não pela aparência exterior, como no passado".

Diz o velho ditado que “Deus escreve certo por linhas tortas”, mas as pessoas que, de alguma forma, procuram compreender um pouco mais a fundo os escritos de Deus pensam diferente...

Renato Holanda era um jovem introvertido, sem muitos amigos e sem muita perspectiva profissional. Levava uma vida descompromissada, mesmo que sem vícios ou grandes estripulias juvenis, quando, aos 23 anos, descobriu que tinha um tumor cerebral.

“Tudo aconteceu muito rápido!”, conta Renato, que, ao se submeter a uma intervenção cirúrgica para a retirada do tumor, sofreu uma atrofia do nervo ótico e ficou cego. A doença foi controlada, mas a seqüela deixada pela sua passagem abateu o jovem com a força de um tufão.

Ele imaginava que a perda da visão o levaria a uma vida de total dependência e completo isolamento social, mas, passado o luto inicial, começou a perceber que era muito cedo para se entregar à tristeza e decidiu: “Eu quero é viver!”. Enfrentou o preconceito da família e se matriculou na Escola de Cegos Cyro Acioly, onde passou a compreender melhor aquela limitação e começou a aceitar a sua nova condição. Aprendeu o Braille, fez vários cursos de informática e, cinco anos depois, formou-se em Radialismo.

Muito diferente do jovem que fora – hoje, alegre e comunicativo –, Renatinho tem o rádio-amadorismo como hobby e costuma acordar cedo para conversar com os amigos, tendo, inclusive, viajado para vários estados brasileiros para prestigiar os encontros da categoria.

Ele se considera uma pessoa muito mais forte e preparada para a vida do que antes e diz que a “cegueira” lhe abriu os olhos para os verdadeiros valores da alma. “A deficiência visual me ensinou a ver as pessoas pelo sentimento, pelo que elas são, e não pela aparência exterior, como no passado”. Renatinho aconselha que acreditemos sempre no poder de superação que há dentro de cada um de nós: “Querer vencer e nunca, nunca desistir dos nossos sonhos!”, enfatiza cheio de entusiasmo.

Aliás, entusiasmo é o que não lhe falta. Espírita convicto, ele não desperdiça a oportunidade de se capacitar através do estudo e de esclarecer as pessoas sobre as benesses do amor divino em suas palestras. Nas conversas com o grupo de amigos, que produzem com ele o programa semanal Momento Espírita, pela rádio Difusora AM, do qual eu faço parte, o radialista costuma partilhar, com profundo brilho nos olhos, a imensa ajuda espiritual que recebe, inclusive quando dorme e tem sonhos coloridos, passeando por belas paisagens, recebendo orientações espirituais e gozando perfeitamente de sua faculdade visual.

Sempre otimista, Renato me lembra – guardando as devidas proporções, é claro – aquele que ficou conhecido como “o gigante deitado”, Jerônimo Mendonça. Um mineiro de Ituiutaba que conviveu 50 anos com a artrite reumatóide progressiva, que o deixou totalmente paralítico por mais de 30 anos e cego nos últimos 20, sofrendo ainda de terríveis dores no peito e necessitando manter vários pesos de areia sobre o corpo para poder suportá-las.

Ainda assim, ele fundou o Lar Espírita Pouso do Amanhecer, obra destinada ao amparo de órfãos, em sua cidade natal, entre outras instituições em diversas localidades, e viajou pelo País inteiro em cima de uma maca, proferindo palestras, cantando, consolando e orientando as pessoas sobre o Mestre Jesus e a sua Boa Nova.

Os que o conheceram de perto dizem nunca terem ouvido uma queixa sequer de seus lábios e que a alegria era a sua marca registrada. Espirituoso, perguntado, certa vez, por um repórter sobre o que seria a felicidade, respondeu: - A felicidade, para mim, que estou deitado nesta cama há tanto tempo sem poder me mexer, seria poder virar de lado. Numa psicografia, algum tempo depois de sua morte, em 1989, teria dito: "Sou um pássaro livre!”.

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