quarta-feira, 28 de maio de 2008

Um sonho realizado

“Continuará conspirando para que a cada um seja dado de acordo com as suas obras e o seu merecimento.”

Estávamos já na metade do programa quando ela entrou, trazida pelo recepcionista. Com uma aparência humilde e a cabeça baixa, tinha um sorriso tímido nos lábios quando foi apresentada como uma ouvinte do Momento Espírita que viera conhecer a equipe.

Entre surpresos e emocionados, levantamo-nos todos para recebê-la: eu, Fernando Caldas, Manoel Jovino e, por fim, Renato Holanda, o apresentador do programa, já que Eliane Rosa e Silva não pôde comparecer nesse dia. Visivelmente emocionada, apresentou-se: - Eu sou Maria de Fátima, da Cidade Universitária. Eu era louca para conhecer vocês, disse com os olhos marejados de lágrimas, principalmente o Renato!

Abraçada e acolhida por todos, sentou-se na primeira cadeira do miniauditório do estúdio da rádio Difusora e continuou assistindo, ao vivo, ao programa, que acompanhava pelo radinho todos os sábados à tarde, das 16:00 às 18:00 horas.

Enquanto eu conversava com ela, Fernando comentou rapidamente que aquela mulher tinha uma história muito triste, mas, imbuídos em atender a visitante, não nos aprofundamos no assunto. À medida que ela falava, no entanto, sobre como havia chegado até ali, eu fui, aos poucos, me recordando da sua trajetória de vida...

Conhecemos Fátima há mais ou menos um ano, quando a maioria dos nossos programas foi à noite por causa dos jogos do Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, que sempre acontecem nas tardes de sábado. Telefonou-nos, muito revoltada, no dia em que o entrevistado falava sobre “A Justiça Divina e a Reencarnação”. Contou-me que morava só e tinha muita dificuldade de se relacionar com as pessoas, embora amasse os animais.

Fora criada por pais adotivos, alcoólatras, que a maltratavam muito. Começou a beber aos 9 anos de idade e foi violentada ainda na puberdade. Quando soube que era filha adotiva, procurou os pais biológicos e foi, mais uma vez, rejeitada por eles. Frustrada, com raiva de tudo e de todos, se entregou à bebida e aos homens, numa sucessão de infelizes tentativas de ser amada. “Eu não confio em ninguém”, dizia ela ao telefone. “Onde está a justiça de Deus?”, queria saber. Conversamos longamente naquele dia, e isso se repetiu outras tantas vezes...

Há sete anos divorciada do álcool – depois de quatro entradas nos Alcoólicos Anônimos (na última permaneceu) –, Fátima divorciou-se também do amor dos homens e começou a amar a si mesma: “Morei com 20 a 30 maridos para ver se tinha uma vida boa, mas só fui humilhada. Hoje eu não quero mais!”.

A mulher conta que, embora tenha “andado” em várias religiões, não se identificou com nenhuma. “Eu não tinha crença!”, lembra, dizendo que conheceu a Doutrina Espírita quando catava garrafas na rua e encontrou alguns livros no lixo. Ela os lia e depois os devolvia à lixeira. “Li uma base de uns quatro ou cinco, mas foi Violetas na Janela (de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho) que me estimulou a procurar uma Casa Espírita”.

Fátima afirma que o Espiritismo a ajudou a compreender os seus pais e perdoá-los. Com trabalho fixo, hoje, e se esforçando para deixar o cigarro (seu mais novo projeto), parece bem mais leve do que quando conversamos pela primeira vez. Ao final do programa, a mulher se despediu da gente com um largo sorriso no rosto, lágrimas nos olhos e a seguinte frase: “Deus é maravilhoso! Tem realizado todos os meus sonhos”.

Mal sabe ela que foi a sua força de vontade, a sua perseverança e a busca pessoal empreendida por si mesma que abriu as portas da sua vida para que o amor divino pudesse resplandecer em toda a sua plenitude. Afinal, Deus é o amor que não desiste de nenhum de nós e, independentemente de acreditarmos Nele ou não, continuará conspirando para que a cada um seja dado de acordo com as suas obras e o seu merecimento.

E assim caminha a humanidade: devagar e sempre rumo ao infinito!

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